Page 13 - ARTE!Brasileiros #61
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BIENAIS 16ª BIENAL DE LYON
Dana Awartani, Standing by the Ruins of Aleppo, 2021, tijolos e argila Ailbhe Ní Bhriain, Instrusions II, 2022, tapeçaria jacquard de linho e algodão
após uma intensa pesquisa sobre a história de Lyon, que vai ganhar ou perder, e tudo voltará a se repetir. Seu nasce concomitante ao declínio da Bienal de Paris que, Como se tivessem atirado uma pedra no lago, os
os curadores Sam Bardaouil e Till Fellrath escolheram desejo ficou adormecido. Não lhe falta nada. lançada em 1959, chamava-se também Manifestation curadores criaram narrativas que vão se desenvolvendo
trazer à tona diversas expressões da nossa fragilidade, Não há anseio de imortalidade nas escolhas da Bie- Biennale et Internationale des Jeunes Artistes, osten- em círculos concêntricos. O primeiro movimento, As
contada por obras de diferentes períodos da história e nal de Lyon. Ela não nega nossa fragilidade, a encara. tando o experimentalismo e permitindo a entrada só muitas vidas e mortes de Louise Brunet, conta a história
da contemporaneidade. Imagens e documentos relatam, Escancara que somos seus reféns desde o dia em que de jovens artistas, até 35 anos. Com o passar dos anos de um indivíduo, neste caso a história e resistência de
na sua própria existência, como o homem reage a sua nascemos, o que nos traz a certeza de não estarmos ela foi se abrindo para outras sugestões, perdendo sua Louise Brunet, uma tecelã (fiandeira), trabalhadora da
fragilidade através do tempo. excluídos do tempo, do tempo da história, e do mundo. originalidade e veio a encerrar suas atividades em 2008. poderosa indústria da seda em Lyon, e de sua partici-
“Manifesto da fragilidade coloca a vulnerabilidade Onde criar e fazer em cada momento pode nos libertar Lyon é a terceira cidade francesa em importância, pação na famosa Revolta dos Canuts, em 1834.
como possibilidade de uma forma geradora de resistência, da angústia da nossa própria morte. pela sua história, e por ter exercido um papel preponde- Os canuts eram trabalhadores da seda lionesa do
encorajada pelo passado, sensível ao presente e que “O manifesto imagina um mundo onde a vulnerabili- rante na economia e industrialização na França. Criada século 19, muitas vezes trabalhando em teares de jac-
prepara para enfrentar o futuro”, diz a historiadora da arte dade é representada ativamente, uma realidade como FOTOS: PATRICIA ROUSSEAUX | CORTESIA DO ARTISTA E DA GALERIA ISABELLE VAN DEN EYNDE na antiguidade pela vontade de Roma, pela sua posição quard, eram sujeitos a condições de trabalho extrema-
Isabelle Bertolotti, diretora artística da Bienal de Lyon. base para o empoderamento, em vez de ser evitada estratégica, tornou-se a capital dos gauleses. Era um mente precárias. Em 14 de fevereiro de 1834, os canuts
Simone de Beauvoir, uma das escritoras francesas como um sinal de fragilidade. Concebido como uma importante centro político e religioso, e sua cristiani- se revoltaram pela segunda vez, ocupando as colinas de
mais famosas do século XX, escreveu lá atrás, em 1946, um declaração coletiva, é sustentado por uma pluralidade zação se deu no século 2. Lyon. A revolta durou seis dias, antes de ser reprimida
clássico do existencialismo francês, Todos os homens são de vozes resilientes que prosperam na ternura e flo- “A própria cidade de Lyon também é protagonista: por 12 mil soldados.
mortais. Nele, o protagonista Fosca é imortal e, em cada rescem na adversidade”, escrevem os curadores, no mergulhamos na história de Lyon, que fornece um con- Segundo documentos oficiais encontrados no Minis-
um dos personagens que vive ao longo dessa existência Manifesto da fragilidade. junto emocionante de estratos, para extrair elementos tério Francês de Assuntos Estrangeiros, em Paris e
infinita, sofre, ao não ser vulnerável, por não poder viver Criada em 1991, a Bienal de Arte Contemporânea de que queríamos ver os artistas explorarem, depois foca- Nantes, Louise Brunet, após quatro anos na prisão,
cada momento como único. Por não poder amar, por Lyon cresceu sistematicamente em visitação e funda- mos em três trajetórias concêntricas que destacam o liberta teria sido recrutada por um grande marchand
saber que vai perder o ser amado ou lutar, porque sabe mentalmente no conceito de ocupação da cidade. Ela tema”, diz Bardaouil. da seda, Nicolas Portalis, que lhe prometera uma vida
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