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BIENAIS 16ª BIENAL DE LYON
















































            Dana Awartani, Standing by the Ruins of Aleppo, 2021, tijolos e argila                                              Ailbhe Ní Bhriain, Instrusions II, 2022, tapeçaria jacquard de linho e algodão




            após uma intensa pesquisa sobre a história de Lyon,  que vai ganhar ou perder, e tudo voltará a se repetir. Seu      nasce concomitante ao declínio da Bienal de Paris que,   Como se tivessem atirado uma pedra no lago, os
            os curadores Sam Bardaouil e Till Fellrath escolheram   desejo ficou adormecido. Não lhe falta nada.                 lançada em 1959, chamava-se também Manifestation   curadores criaram narrativas que vão se desenvolvendo
            trazer à tona diversas expressões da nossa fragilidade,   Não há anseio de imortalidade nas escolhas da Bie-         Biennale et Internationale des Jeunes Artistes, osten- em círculos concêntricos. O primeiro movimento, As
            contada por obras de diferentes períodos da história e   nal de Lyon. Ela não nega nossa fragilidade, a encara.      tando o experimentalismo e permitindo a entrada só   muitas vidas e mortes de Louise Brunet, conta a história
            da contemporaneidade. Imagens e documentos relatam,  Escancara que somos seus reféns desde o dia em que              de jovens artistas, até 35 anos. Com o passar dos anos   de um indivíduo, neste caso a história e resistência de
            na sua própria existência, como o homem reage a sua   nascemos, o que nos traz a certeza de não estarmos             ela foi se abrindo para outras sugestões, perdendo sua   Louise Brunet, uma tecelã (fiandeira), trabalhadora da
            fragilidade através do tempo.                   excluídos do tempo, do tempo da história, e do mundo.                originalidade e veio a encerrar suas atividades em 2008.  poderosa indústria da seda em Lyon, e de sua partici-
              “Manifesto da fragilidade coloca a vulnerabilidade   Onde criar e fazer em cada momento pode nos libertar            Lyon é a terceira cidade francesa em importância,  pação na famosa Revolta dos Canuts, em 1834.
            como possibilidade de uma forma geradora de resistência,  da angústia da nossa própria morte.                        pela sua história, e por ter exercido um papel preponde-  Os canuts eram trabalhadores da seda lionesa do
            encorajada pelo passado, sensível ao presente e que   “O manifesto imagina um mundo onde a vulnerabili-              rante na economia e industrialização na França. Criada   século 19, muitas vezes trabalhando em teares de jac-
            prepara para enfrentar o futuro”, diz a historiadora da arte   dade é representada ativamente, uma realidade como   FOTOS: PATRICIA ROUSSEAUX | CORTESIA DO ARTISTA E DA GALERIA ISABELLE VAN DEN EYNDE  na antiguidade pela vontade de Roma, pela sua posição   quard, eram sujeitos a condições de trabalho extrema-
            Isabelle Bertolotti, diretora artística da Bienal de Lyon.   base para o empoderamento, em vez de ser evitada        estratégica, tornou-se a capital dos gauleses. Era um   mente precárias.  Em 14 de fevereiro de 1834, os canuts
               Simone  de  Beauvoir,  uma  das  escritoras  francesas como um sinal de fragilidade. Concebido como uma           importante centro político e religioso, e sua cristiani- se revoltaram pela segunda vez, ocupando as colinas de
            mais famosas do século XX, escreveu lá atrás, em 1946, um declaração coletiva, é sustentado por uma pluralidade      zação se deu no século 2.                       Lyon. A revolta durou seis dias, antes de ser reprimida
            clássico do existencialismo francês, Todos os homens são   de vozes resilientes que prosperam na ternura e flo-        “A própria cidade de Lyon também é protagonista:  por 12 mil soldados.
            mortais. Nele, o protagonista Fosca é imortal e, em cada   rescem na adversidade”, escrevem os curadores, no         mergulhamos na história de Lyon, que fornece um con-  Segundo documentos oficiais encontrados no Minis-
            um dos personagens que vive ao longo dessa existência   Manifesto da fragilidade.                                    junto emocionante de estratos, para extrair elementos   tério Francês de Assuntos Estrangeiros, em Paris e
            infinita, sofre, ao não ser vulnerável, por não poder viver   Criada em 1991, a Bienal de Arte Contemporânea de      que queríamos ver os artistas explorarem, depois foca- Nantes, Louise Brunet, após quatro anos na prisão,
            cada momento como único. Por não poder amar, por  Lyon cresceu sistematicamente em visitação e funda-                mos em três trajetórias concêntricas que destacam o   liberta teria sido recrutada por um grande marchand
            saber que vai perder o ser amado ou lutar, porque sabe   mentalmente no conceito de ocupação da cidade. Ela          tema”, diz Bardaouil.                           da seda, Nicolas Portalis, que lhe prometera uma vida

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