Page 64 - ARTE!Brasileiros #60
P. 64
exposição São PAUlo
DEPOIS
DE TUDO
O crítico, professor e curador faz uma análise da obra de
Germana Monte-Mór, que até 5 de novembro apresenta, na
Galeria Estação, cerca de 25 pinturas, feitas durante a pandemia
por roDrigo naves
os primeiros Desenhos De germana monte-mór Posteriormente, seus desenhos foram adquirindo
— realizados no fim dos anos 1980 e começo dos 1990 — maior definição e incorporando áreas de cor. As áreas
pareciam verdadeiros hematomas. A artista evitava a de asfalto encorparam e passaram a se diferenciar,
presença explícita de um fazer que ordenasse o asfalto mais intensamente, das demais regiões do desenho.
sobre a superfície de papel. Tudo se passava como se No entanto, muito daquela instabilidade formal perma-
a uma pancada inicial se seguissem movimentos que neceu, de par com o contraponto com as regiões de cor
independiam da sua vontade. Assim, seus desenhos e relevos. A presença ainda mais acintosa do asfalto se
também tinham o aspecto de algo feito de dentro para via acentuada pela irregularidade de seus contornos,
fora. Por mais que a matéria com que desenhava tivesse pelo aspecto orgânico de sua configuração. Com sua
uma consistência rude e ostensiva, seu tratamento inconstância, eles não se revelavam aptos para conter FOTOS: JOÃO LIBERATO / CORTESIA GALERIA ESTAÇÃO
conduzia mais a uma revelação da capilaridade do papel a massa que circunscreviam. Criava-se então uma
do que à construção de figuras que estabilizassem a espécie de tensão superficial prestes a ceder. Esse
área em que surgiam. As formas que víamos eram a movimento se intensificou nos desenhos expostos
configuração precária de um movimento que tendia a em 1998, pois então passou a haver também, num
uma expansão continuada. mesmo trabalho, uma relação entre manchas negras
64