Page 63 - ARTE!Brasileiros #60
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José Cláudio, sem título, 1968
cores e luz do sol que banha a cidade, com algumas Na versão de Zé Claudio, a mulher está nua igualmente
telas exibindo flagrantes do carnaval. Nesse momento lendo a carta. Nessas obras, o artista pernambucano
de liberdade tonal surge a obra Zé Pereira, alusão ao praticamente elimina a profundidade do plano pictórico
bloco que arrasta os foliões pelas ruas da cidade, com e simplifica as formas com tendência geométrica.
seu enorme boneco que completa 100 anos. Tantas curiosidades permeiam essa exposição motivada
Nu é um gênero de pintura que nasce na academia. pelo respeito que Nara Roesler tem pelo artista. “Devo
José Claudio faz uma série com mulheres desnudas meu trabalho como galerista a José Cláudio. Sua obra
que conheceu em bordeis da cidade. Aracy diz que me tocou profundamente e despertou em mim o desejo
o objetivo dessas visitas era pintar as personagens de ser como uma tradutora do artista”, afirma Nara.
que ali trabalhavam, e cada um desses quadros leva Com ele, a galerista diz ter aprendido a olhar as coisas
o nome da moça retratada. Ainda desse período, ele simples do cotidiano popular. Ver a beleza das roupas
homenageia a esposa com a pintura Retrato de Leonice coloridas que as lavadeiras colocavam para secar nas
(1971), e oito anos depois eterniza sua amiga galerista margens dos riachos, os raios de sol entre as folhas e
na tela Nara (1979). a dança dos coqueirais. O sabor da manga madura e o
Nos anos 1980, José Claudio mergulha no universo de cheiro do caju, os céus do entardecer em Olinda e toda
Almeida Júnior, faz releitura dos quadros O Importuno a beleza contida na vida. “Assim, essa exposição é uma
(1898), Descanso da Modelo (1882) e Saudade (1899), em homenagem aos 90 anos de meu mestre, esse talentoso
que retrata uma moça vestida de preto lendo uma carta. artista que tanto me ensinou”, finaliza Nara.
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