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ARTISTA ROSANA PAULINO
Rosana Paulino,
Assentamento n. 2, 2012
alguma. Eu sou filha de Ogum com Iansã”, diz. “A A ancestralidade, como se vê, está intrinsecamente
construção da psique feminina não contempla as ligada à produção de Rosana Paulino. Paulistana, nasceu
mulheres negras, como eu. Não aparece sequer uma e cresceu na Freguesia do Ó, de onde se mudou há dez
deusa negra, africana. É como se a mulher de origem anos, para Pirituba, um bairro vizinho. Foi na casa da
africana não tivesse psique, não tivesse individualidade. família, na Freguesia, que aprendeu com a mãe a costurar,
É cruel e absurdo. Parece que não temos direito nem habilidade que levou para seu ofício, algo visto em traba-
à subjetividade.” lhos emblemáticos seus, como Parede da Memória (1994),
Suas criações apresentadas em Veneza tentam que ela considera como obra inaugural de sua carreira. Ali,
refundar ou mesmo sugerir novos mitos, a partir de aparecem fotografias de familiares da artista, impressas
novos arquétipos. A série Senhora das Plantas, ela em patuás, amuletos de religiões de matriz africana.
afirma, refere-se às mulheres na faixa etária de 30 a 50 Em 1997, a costura voltou em Bastidores (1997), em FOTOS: BRUNO LEÃO / CORTESIA DA ARTISTA E DA MENDES WOOD DM
anos, ao passo que as Jatobás são as grandes árvores, que retratava mulheres sobre tecidos, esticados sobre
as mulheres em sua maturidade. “Elas remetem às a estrutura de madeira que dá nome à série e é usada
grandes mães de santo, que conseguiram manter a para tecer bordados. Nessas obras, as figuras femininas
comunidade negra unida ao longo da História, são as apareciam com riscos, rabiscos, suturas que represen-
detentoras e mantenedoras do conhecimento, são as tam o silenciamento delas na sociedade.
nossas avós, na realidade”, afirma. Ainda no ambiente familiar, Rosana e suas irmãs
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