Page 68 - ARTE!Brasileiros #60
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ARTISTA ROSANA PAULINO



















































                        Rosana Paulino,
                        Assentamento n. 2, 2012




            alguma. Eu sou filha de Ogum com Iansã”, diz. “A   A ancestralidade, como se vê, está intrinsecamente
            construção da psique feminina não contempla as   ligada à produção de Rosana Paulino. Paulistana, nasceu
            mulheres negras, como eu. Não aparece sequer uma   e cresceu na Freguesia do Ó, de onde se mudou há dez
            deusa negra, africana. É como se a mulher de origem   anos, para Pirituba, um bairro vizinho. Foi na casa da
            africana não tivesse psique, não tivesse individualidade.  família, na Freguesia, que aprendeu com a mãe a costurar,
            É cruel e absurdo. Parece que não temos direito nem   habilidade que levou para seu ofício, algo visto em traba-
            à subjetividade.”                               lhos emblemáticos seus, como Parede da Memória (1994),
               Suas criações apresentadas em Veneza tentam   que ela considera como obra inaugural de sua carreira. Ali,
            refundar ou mesmo sugerir novos mitos, a partir de   aparecem fotografias de familiares da artista, impressas
            novos arquétipos. A série Senhora das Plantas, ela   em patuás, amuletos de religiões de matriz africana.
            afirma, refere-se às mulheres na faixa etária de 30 a 50   Em 1997, a costura voltou em Bastidores (1997), em  FOTOS: BRUNO LEÃO / CORTESIA DA ARTISTA E DA MENDES WOOD DM
            anos, ao passo que as Jatobás são as grandes árvores,  que retratava mulheres sobre tecidos, esticados sobre
            as mulheres em sua maturidade. “Elas remetem às   a estrutura de madeira que dá nome à série e é usada
            grandes mães de santo, que conseguiram manter a   para tecer bordados. Nessas obras, as figuras femininas
            comunidade negra unida ao longo da História, são as   apareciam com riscos, rabiscos, suturas que represen-
            detentoras e mantenedoras do conhecimento, são as   tam o silenciamento delas na sociedade.
            nossas avós, na realidade”, afirma.                Ainda no ambiente familiar, Rosana e suas irmãs

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