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ARTISTA ROSANA PAULINO
Rosana Paulino, sem título (série ¿História Natural?), 2016
O interesse pela biologia – por meio de livros sobre sem levar isso conta, varrendo para debaixo do tapete.”
“as formas de cognição, como se elabora o pensamento, Há também um elemento da História da Arte no
essa área ligada ao pensar e ao cérebro” – não apenas Brasil que lhe causa incômodo: a ideia de uma vocação
prosseguiu ao longo dos anos, como também informa para a geometria, que ela considera imposta ao país
a sua produção artística. Não à toa, afirma Rosana, ela por um ambiente internacional, sem levar em conta as
pesquisa e desenvolve em seu trabalho a questão da dimensões continentais que temos, com tantas variantes.
pseudociência e do racismo científico. “Eu não tenho nada com isso”, reclama Rosana,
“Naturalmente fui me interessando pela ideia da autora de uma série ironicamente batizada de Geo-
visualidade e da visibilidade negra, da representação, metria à Brasileira. “Esta dita vocação geométrica é
em especial pela fotografia. E aí entra também a docu- algo limitado a um grupo muito pequeno de artistas, FOTOS: ISABELLA MATHEUS / CORTESIA DA ARTISTA E DA MENDES WOOD DM
mentação dos artistas viajantes, por exemplo. Minha em sua maioria do Rio e de São Paulo. E os artistas
série ¿História Natural?, por exemplo, o nome já diz negros brasileiros estão começando a rever isso, desa-
tudo. Nada menos natural do que a classificação do fiando, questionando essa concepção de história da
outro, dos seres, da fauna e flora. A gente tem que arte do país”, diz.
olhar para essa construção que foi feita e que inclusive Outro elemento caro à produção de Rosana Paulino
ainda é usada para justificar uma falsa inferioridade é a territorialidade. Ela considera, por exemplo, que
da população negra. E não temos como pensar o país praticamente nenhum outro artista negro influenciou
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