Page 47 - ARTE!Brasileiros #60
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Batedeiras de uso doméstico, século 20, expostas na mostra Casas e Coisas
O desenho curatorial também aplicou fortemente espaço, tornando possível essa expansão e a inclusão
recursos táteis, permitindo que o visitante – e não apenas de novos olhares e interpretações sobre o acervo, a
aquele que tem alguma limitação visual – toque em diver- arquitetura do prédio e o entorno, observado agora a
sas obras e objetos que compõem as várias exposições, partir do mezanino instalado no topo do edifício.
diminuindo assim a distância entre sua existência real e Saíram excessos como as dourações nas colunas e
simbólica. São mais de 300 recursos do gênero, que o volutas, a cor foi harmonizada e padronizada num suave
público timidamente vem descobrindo, indo de um jacaré tom de amarelo originário (as paredes do prédio foram
taxidermizado (representando o período em que o museu submetidas a uma verdadeira pesquisa arqueológica a
também abrigava coleções de arqueologia e etnologia, fim de encontrar a tonalidade de origem). As salas foram
transferidas para outras instituições da USP na década integradas, os andares superiores foram incorporados
de 80) a réplicas em relevo de peças do acervo, como o ao museu e as atividades (como acervo, restauro, pes-
retrato de Maria Quitéria ou uma sala de descanso na quisa etc.) ali exercidas foram transferidas para outras
qual é possível experimentar de forma concreta os vários casas alugadas nas redondezas do bairro do Ipiranga.
modos de sentar na história do mobiliário brasileiro. Obras fundamentais da coleção, como a célebre tela
A reforma física, que vem atraindo o interesse de Independência ou Morte, de Pedro Américo, que recriou
um público ávido por novidades, mais do que dobrou e mitificou a encenação do grito do Ipiranga muitas
o espaço dedicado às exposições e circulação dos décadas depois do gesto simbólico da Independência
visitantes. Ela também atualizou e recontextualizou o (a tela é de 1888), ou a pintura Partida das Monções, de
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