Page 43 - ARTE!Brasileiros #60
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às Torres Gêmeas nos foi desconcerta, não fica presa a Camille Paglia, em seu livro
apresentado como um evento imagens jornalísticas. Devemos Imagens Cintilantes, de 2015,
cinematográfico. pensar hoje também na “moda” retoma uma constatação já por
Cada vez mais as imagens que de exposições imersivas, que muitos colocada: “A vida
diariamente desfilam diante de por si só são bastante moderna é um mar de imagens.
nossos olhos nas telas do interessantes, mas nem tudo Nossos olhos são inundados por
computador, ou de um deveria ser imersivo. São figuras reluzentes e blocos de
smartphone, são mais mostras muitas vezes criadas texto explodindo sobre nós por
espetaculares, sensacionalistas com o único intuito da distração, todos os lados.” Ela se pergunta
ou escandalosas. O filósofo do divertimento. Não que o como podemos viver diante desta
francês Gilles Lipovetsky e o lúdico não seja importante, sensação de vertigem, já que
professor da faculdade de mas a forma que nos são perdemos nossa capacidade da
Grenoble, Jean Serroy, em seu apresentadas parecem mais contemplação, que é quase
livro A Estetização do Mundo, de cenários prontos para selfies, ou sinônimo de calma, sensação que
2015, já avisavam que vivemos possibilidades de criar parece impossível se vivemos na
numa hipercultura midiática- engajamento nas redes sociais. contemporaneidade: “Em meio
mercantil em que “a arte Nem toda obra se presta a a tamanha e neurótica poluição
contemporânea se pretende esta experiência. Algumas, feitas visual, é essencial encontrar o
‘experencial’ proporcionando no início do século 20, foram foco, a base da estabilidade, da
sensações fortes, um choque criadas para um outro tipo de identidade, da direção da vida”,
visual pelo espetáculo do diálogo, de rupturas estéticas e diz Camille, em outro trecho.
desmedido, do excessivo.” Uma históricas, de questionamento Diante desta espetacularização
estética midiática, que nem dos estados vigente da arte das imagens contemporâneas,
sempre pretende ou busca a e não como cenários fake de um precisamos compreender o papel
reflexão, mas o susto. parque de diversões. da arte ou, como afirma a própria
A colocação da imagem como A polêmica e desafiadora Camille Paglia, “precisamos
um megaevento que nos crítica de arte e de cultura reaprender a ver”.
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