Page 52 - ARTE!Brasileiros #60
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exposição São PAUlo
Fernando Sato,
Mural Marielle
Franco (criação
coletiva), Escadão
Marielle Franco
(criação coletiva) e
Fumaça Antifascista
(criação coletiva).
Imagem feita em
memória aos três
anos do assassinato
de Marielle Franco,
uma ocupação
de várias ações
artísticas lembrando
que a justiça ainda
não foi feita
Auxiliadora da Silva; no mesmo segmento, o pintor No os curadores, portanto não é surpresa que Histórias
Martins mostra uma obra a partir de uma fotografia, a Brasileiras tenha essa linguagem que se revolve num
única aí que não é autorretrato. horizonte contínuo, endêmico, como explica Lília. Entre
A história do Brasil é tensionada por qualquer ângulo as obras garimpadas destacam-se as pinturas Paisagem
que se tente entendê-la. Terra e Território deixa evidente com Jiboia (1660), de Frans Post, que representa a pai-
as lutas por espaços territoriais desde o século 16. Pedro- sagem brasileira, e a fotografia Natureza Morta 1 (2016),
sa cura esse segmento com Isabella Rjeille e comenta de Denilson Baniwa, que traz a silhueta de um indígena
que o tema envolve artistas nacionais e estrangeiros. O morto na floresta amazônica, uma analogia ao extermínio
pintor afro-americano Hank Willis Thomas, criou uma simultâneo tanto da mata quanto dos povos tradicionais.
das obras mais sintéticas do gênero, o mapa da América Com André Mesquita, Lilia revive Rebeliões e Revol-
do Norte ligado ao da África, numa clara alusão à rota tas. “O Brasil sempre guardou a imagem mitológica
dos navios negreiros. O poeta Langston Hughes, negro, de país pacífico, harmonioso, no entanto foi o último a
comunista, ligado aos beatniks e ativista na década abolir a escravidão.” Hoje as revoltas nascem contra o
de 50, já havia falado sobre essa ponte maldita sobre passado, como o protagonismo de falsos heróis como FOTOS: PATRICIA ROUSSEAUX | CORTESIA MASP | EDUARDO ORTEGA / CORTESIA MASP |
esses dois continentes. os Bandeirantes. A curadora ressalta a presença da obra
O Brasil, com seus quilômetros de litoral e densas Confronto com as Tropas de Arthur Oscar, do cearense
florestas, é um multiplicador de paisagens. Com Gui- Descartes Gadelha, além do coletivo a Linha do Hori-
lherme Giufrida, Lilia trabalha o tema Paisagem e Trópi- zonte, que fala de censura com bandeiras das Mães de
cos e lembra que o Brasil sempre foi representado pela Maio. André Mesquita comenta pontos da mostra como
humanidade decaída, que são teorias da mestiçagem a greve dos de anarquistas nas ruas de São Paulo em
e, por outro lado, pela eternização da paisagem nos 1920. Essas lutas são feitas com o uso de panfletos, a
grandes trópicos, como o éden na terra. Aqui está em partir de uma produção efêmera que é transformada
jogo a questão da horizontalidade, tema debatido entre em arte. No meio da sala, a escultura agigantada de
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