Page 75 - ARTE!Brasileiros #59
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“Tudo o que diz respeito a melhorar as condições de presídios
e da vida das pessoas encarceradas é colocado no final da lista.
Acho que o empecilho é, na verdade, uma vontade política”.
CLAuDiA ARATAngy
em arte e cultura podem ser compreendidas para a centros de progressão penitenciária. Antes da pande-
remição de pena – a leitura já era considerada. Anterior mia, a Pinacoteca iniciou um processo, interrompido
à Resolução, um segundo documento produzido pela pela crise sanitária, no qual seriam desenvolvidas
parceria dEPEn/PnUd de 2016 já indicava que “com- oficinas de serigrafia com as pessoas em regime
preender as atividades em arte e cultura no sistema semiaberto que prestam serviço na SaP; o material
prisional para fins de remição da pena é entender desses encontros geraria uma exposição itinerante,
que as ações culturais são lugar privilegiado para a com planos de passar por três unidades prisionais da
promoção de valores éticos, de solidariedade e coo- capital paulista, junto com a mediação dos autores
peração, de cidadania, de reconhecimento e respeito dos trabalhos, além de um catálogo.
às diferenças, de ressignificação de trajetórias indi- Apesar do plano não ter sido retomado até o momen-
viduais e coletivas, de formação integral e humana e to, a Pinacoteca pretende realizá-lo no futuro. Além disso,
de valorização da vida”. o museu costuma receber visitas da população privada
Aratangy aponta que a Resolução Nº. 391 amplia de liberdade adulta bem como dos jovens internos na
ainda a remição para pessoas estrangeiras, pessoas Fundação CaSa, trabalho que já se estende por 15 anos
não alfabetizadas, e dá a possibilidade que não seja e que continua agora de modo híbrido, atendendo as
considerada apenas a escrita da resenha como com- visitas presenciais, mas também realizando percursos
provação de realização, em se tratando da leitura. virtuais para as unidades do interior, as quais, devido
O relatório enfatiza que em pé de igualdade está a à distância, dificilmente conseguiriam trazer os jovens
abertura do sistema prisional para a sociedade civil para visitar o Museu em São Paulo.
e especialmente para os agentes do campo da arte e Gabriela Aidar, Coordenadora dos Programas Edu-
da cultura, “seja por meio da atuação dos diferentes cativos Inclusivos do Núcleo de Ação Educativa, conta
fóruns de cultura, conselhos estaduais e municipais que é importante ter uma abordagem específica para
de cultura, das instituições de ensino superior, da rede que esses públicos sintam-se “bem-vindos, acolhidos e
de equipamentos culturais, dos pontos de cultura, participantes desse universo porque, de fato, à primeira
educadores populares, dentre outros atores”. Explo- vista é muito diverso, muito diferente, muito distinto do
rando essa possibilidade, Aratangy conta que a própria que é a realidade deles”.
oaB-SP vem tentando costurar algumas parcerias; a “Primeiro nós estabelecemos parcerias para enten-
Santa Maria – fundação de livros didáticos que tem der os processos que estão sendo desenvolvidos nas
um projeto de leitura –, por exemplo, vai apoiar uma organizações de origem, então a visita ao museu tem
oficina de formação para que as mães encarceradas que dialogar de alguma forma com o que está já sendo
possam ser leitoras para seus próprios filhos. trabalhado nesses locais. A partir desses contatos
Outro caso de interação sociedade-cárcere por nós pensamos em alguns roteiros que possam ser de
meio da cultura é o conjunto de ações desenvolvido interesse do grupo. ‘O que nós vamos conversar? O
pela Pinacoteca do Estado de São Paulo que, des- que vamos mostrar para esses grupos que pode ser
de 2017, tem uma parceria com a Coordenadoria de relevante aqui no museu?’ Para cada grupo, vamos
Reintegração Social e Cidadania da Secretaria de construindo percursos educativos particulares”, relata
Administração Penitenciária do Estado de São Paulo Aidar, reforçando o caráter participativo das visitas,
- SaP para trabalhar com a população adulta privada com diálogo constante:
de liberdade. “Para quem está em situação de privação de liber-
Como fruto dessa colaboração surgiram oficinas, dade, poder falar o que pensa, dar sua opinião, ser
tanto com pessoas em regime semiaberto e que pres- ouvido, valorizado, considerado, não é algo pequeno.
tam serviço dentro da própria secretaria (resultan- Liberdade de expressão, nesse caso, não é algo secun-
do, posteriormente, em exposição), como em alguns dário em absoluto. Esses impactos de ordem subjetiva
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