Page 70 - ARTE!Brasileiros #59
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REPORTAGEM DEMOCRACIA NOS MUSEUS
Luta e Resistência
Indígena, fotografia
de Edgar Kanaykõ
Xakriabá, 2022
presente por meio das artes visuais”, como se apre- de diferentes modelos que podem oferecer uma nova
senta a série, não pode lançar mão de subterfúgios visão de governança, narrativas, discurso de caráter
que mascarem atitudes de censura e genuflexões decolonial e uma visão sobre o museu global face a
para com o poder político instituído. novas narrativas e novos modelos institucionais, além
Essa encruzilhada está sendo encarada em todo do futuro sustentável.
o Planeta nesse momento. A incorporação da crítica O CIMaM abordará temas que dizem respeito a toda a
anticolonial e antirracista, a amplificação das questões movimentação da sociedade contemporânea. Mudando
de gênero, o debate sobre a manutenção dos sistemas a Partir de Dentro: Como Nós Devemos Governar a Nós
de poder na sociedade, a urgência de se transmutar Mesmos, com Mami Kataoka, presidente do CIMaM,
forma em processo. É um desafio ainda maior na atual é a conferência que abre o primeiro dia de debates.
conjuntura de regressão democrática no Brasil, país Outra frente de reflexão é o tema Aprendendo com a
no qual o presidente do Instituto Brasileiro de Museus Comunidade: Ações Coletivas em Face da Emergência.
(Ibram) publica uma portaria aprovando o regimento Destravando a História e as Novas Narrativas, com a
interno dos museus do sistema em 30 de março e, 47 filósofa brasileira Denise Ferreira da Silva, pesquisadora
dias depois, revoga o texto que o próprio governo tinha do Social Justice Institute da University of British Colum-
aprovado sem maiores explicações. bia de Vancouver, Canadá (com outras debatedoras no
painel), é o tema seguinte.
Cimam 2022 Denise é uma das principais pensadoras a abordar
É por não fugir do debate contemporâneo que o com maior energia o tema mais candente da atua-
tema do congresso do International Committee for lidade: “Para além da crítica pós-colonial como um
Museums and Collections of Modern Art, o CIMaM exercício intelectual, a arte do confronto é uma inter-
2022 (conferência anual de museus do mundo todo, venção anticolonial precisamente porque transforma
que celebra 60 anos de realização), é justamente o o espaço entre o artista e o público numa trincheira”,
seguinte: O Museu Atento - Práticas Permeáveis para ela escreveu, no texto Reading Art as Confrontation.
um Terreno Comum. Abordando a evolução da noção “Ao encenar um confronto, a arte anticolonial forja uma
moderna de museu, ele terá 12 conferencistas do mundo experiência estética que expõe a própria violência que FOTO: EDGAR KANAYKÕ XAKRIABÁ
todo, incluindo diretores de instituições como o Reina é o pensamento moderno precisamente por causa da
Sofía, de Madri, e será realizado na Espanha entre 11 in/diferença entre o palco e o museu como espaços
e 13 de novembro próximo, tratando da proposição de exibição”.
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