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REPORTAGEM DEMOCRACIA NOS MUSEUS
Ao voltar atrás em censura aos
trabalhos do MSt, Masp reconhece
as encruzilhadas da realidade
por jotabê meDeiros
O PENOSO
APRENDIZADO
DOS MUSEUS
o museu De arte De são paulo (Masp) chegou finalmente a um acordo satis-
fatório com as curadoras do núcleo Retomadas, Sandra Benites e Clarissa Diniz
(que montavam para a instituição uma mostra que faria parte da exposição cole-
tiva Histórias Brasileiras, inaugurada em 1º de julho). Em maio, Sandra e Clarissa
foram surpreendidas pela insólita disposição do Masp de eliminar um recorte de
sua seleção artística, recusaram seguir sem o material por julgarem que estavam
sendo objeto de censura e se demitiram no dia 17 de maio.
Para reverter a situação, o Masp concordou no seguinte: a exibição voltará a
ter a presença de todos os fotógrafos que tinham sido anteriormente vetados na
exposição, e cujas obras retratam o Movimento Sem Terra (eram seis fotografias
do MSt de autoria de André Vilaron, Edgar Kanaykõ Xakriabá e João Zinclar). Esses
registros, vetados anteriormente, terão agora ampliações distribuídas a todo o
público (em formato de pôsteres), e a exposição ampliará a gratuidade de acesso ao
museu e às suas atividades também às quartas-feiras (tradicionalmente, a entrada
grátis é somente às terças). O museu também reconhece a propriedade intelectual
do trabalho das curadoras e dará ao argumento curatorial o caráter de copyleft.
O Masp aceitou ainda realizar um seminário online tratando do processo de
produção da mostra, com convidados comissionados, com o intuito de debater
os desafios e desdobramentos da proposta curatorial, além de produzir (por inter-
médio da editora Expressão Popular, do MSt) uma revista que trate dos processos
das lutas sociais. Na abertura da exposição, no dia 26 de agosto, o Movimento Sem
Terra (MSt) e movimentos sociais e indígenas convocarão um ato cultural que será
abrigado pela exposição, e o museu se comprometeu também em realizar novas
edições do núcleo Retomadas em escolas e espaços de formação do movimento
de luta pela terra.
O museu ainda promoverá a readmissão da antropóloga Sandra Benites como
curadora adjunta, voltando a ter em seu corpo de curadores a primeira mulher
indígena a integrar o bureau do Masp. Sandra e Clarissa divulgaram uma carta
aberta como forma de reagir a um aceno de reconsideração do Masp, feito em nota
oficial uma semana antes. No dia 20 de maio, o museu se manifestou publicamente
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