Page 59 - ARTE!Brasileiros #56
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um universo. Ao adentrar a exposição, vislumbramos é algo que não é inerente à obra, mas também não está
o sentimento do fotógrafo ao se abrir ao acaso da vida, fora dela em determinados contextos: habita, novamente,
à surpresa dos encontros, abertos à possibilidade de esse misterioso “entre”.
sermos arrebatados por uma imagem à próxima curva. Intitulada Máscara, espelho e escudo, a exposição
O paralelismo à exposição de Pierre Verger, simul- é batizada a partir de três signos de alto simbolismo
tânea e vizinha à exposição de Luiz Braga, no Instituto que são análogos ao processo fotográfico do artista,
Tomie Ohtake, em São Paulo, até 12 de dezembro, é como o próprio escreveu. Há, entretanto, uma forte
assertivamente traçado pelos textos curatoriais de carga híbrida vinda da matriz transcultural paraense
Paulo Miyada e Priscyla Gomes que narram a história que também pode ser relacionada a esses três símbolos.
de dois viajantes. Braga, o teimoso e curioso que busca As máscaras, caras à ritualística indígena, também
viajar dentro de si, de sua terra e sua cultura; e Verger, o foram hibridizadas – quando da recepção de tradi-
aventurista mundial ambicioso, digno de um romance de ções europeias trazidas pelos missionários católicos
Jules Verne. As analogias literárias poderiam seguir: o – pelos índios colonizados na Amazônia, que pintavam
circum-navegador Phileas Fogg, protagonista de A Volta os admiráveis mascarões nos forros das igrejas em que
ao Mundo em 80 Dias, de Vernes, é acompanhado por se tornaram devotos. Nessas expressões artísticas,
seu criado, chamado de Passepartout. Elemento caro à percebem-se diversas marcas de tradição indígena
fotografia, o passepartout, homônimo ao personagem, feitas por mãos nativas, pintadas com tintas da terra e
Perfil de senhora no Círio, 1991
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