Page 58 - ARTE!Brasileiros #56
P. 58

EXPOSIÇÕES SÃO PAULO












































            Raylana, 2013









            próprio ritmo. Após o dispendioso trabalho de domar  pertencessem ao plano real – quase como visagens,
            as cores e as luzes, o fotógrafo fada-se a abrir-se ao   entes fantasmagóricos da cultura paraense.
            acaso, ao diálogo. Ativamente espera e flana e, com um   O projeto expográfico é consoante com os caminhos
            conta-gotas, é agraciado com suas personagens ao   conceituais propostos e instigados pelas obras. Nele,
            longo de quatro décadas, que encontra e reencontra no   as imagens elevam-se, numa espécie de suspensão
            porto, no barco, na rua, no rio e em casa. À Espera de   ideológica, reafirmando que não estão nem afixadas na
            Rosa, à la Beckett: na obra de Luiz Braga, a persistência   terra, nem alçadas aos céus, mas habitam esse campo
            e a paciência andam de mãos dadas.              fantasmagórico das imagens, num eterno “entre”: as
               Nessa série de retratos em cor, reunidos pela primeira   noções de material e imaterial, realidade e ficção, mate-
            vez, o fotógrafo cria alegorias da vida cotidiana, onde o   rialidade e abstracionismo são desafiadas, negando os
            observador pode se identificar, no olhar do retratado,  dualismos convencionais e transpassando-as como
            com figuras distantes de sua realidade. Dessa forma,  um dardo no exato momento em que rasga o véu – o
            transforma os retratados em ideia, em personagens   clique fotográfico. O espaço da exposição é pensado
            idílicos, como as divindades da escultura tapajônica   de forma que o espectador veja uma imagem de cada
            ou as gravuras bíblicas de Gustave Doré – traçando um   vez, paulatinamente, construindo um labirinto de planos   FOTOS: CORTESIA DO ARTISTA / GALERIA LEME
            caminho de matriz híbrida entre as tradições nativas e   de madeira em que as fotografias são afixadas, que se
            a cultura ocidental europeia. Ao ilustrar magicamen- assemelha à percepção labiríntica da floresta. Como
            te episódios do dia a dia, Braga eleva a imagem dos   a folhear um livro, vê-se uma imagem a cada vez, e
            seus retratados a um patamar imaterial, como se não   isso não só basta como transborda: em cada uma há

            58
   53   54   55   56   57   58   59   60   61   62   63