Page 102 - ARTE!Brasileiros #56
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OPINIÃO COLUNA OLHO CRÍTICO










            A IMAGEM QUE


            PRETENDIA MUDAR A


            PERCEPÇÃO DO MUNDO






                                            Na estreia de sua nova coluna, Simonetta
                                            Persichetti analisa a imagem do atentado
                                            às Torres Gêmeas, coloca questões acerca
                                            da força atribuída a ela e lembra a importância
                                            de considerar a construção de uma fotografia


                                            por simonetta persiChetti





            o 11 De setembro, data que ficou   força de uma imagem, que nem    Entramos, talvez, na era das
            conhecida e reconhecida como    é a melhor ou mais significativa,   imagens. Um ataque midiático
            o dia do atentado terrorista aos   mas que foi escolhida para   montado como um verdadeiro
            Estados Unidos, é imortalizado    relembrar o espanto do        espetáculo. A notícia não era
            na imagem do ataque às Torres   inesperado. O que importa       procurada, chegava até nós.
            Gêmeas do World Trade Center,   é que ela ficou como a marca da   Assistimos ao vivo (quem tinha
            em Nova York.                   transformação social, a mudança   idade em 2001) o que a filósofa
               Na efeméride dos 20 anos     do contexto histórico. Uma      francesa, Marie-José Mondzain,
            do atentado, as mesmas imagens   mudança que teve consequências   escreveu em seu livro A imagem
            aparecem e, repetidas, nos      que pagamos até hoje (Guerra    pode matar?: “O inimigo tinha
            lembram o horror do que         do Iraque, Afeganistão etc.)    organizado um espetáculo
            assistimos ao vivo, não pelas      Muitos pensadores da         aterrador. Num certo sentido,
            redes sociais – que ainda não   contemporaneidade, Jean         ao massacrar tantos homens, ao
            existiam – mas pela repetição    Baudrillard (1929-2007), por   abater as torres, [nos apresentava]
            dos aviões que atingiam as Torres   exemplo, decretaram o 11 de   o primeiro espetáculo histórico da
            Gêmeas. Incrédulos precisávamos   setembro de 2001 como a entrada   morte da imagem na imagem da
            de texto que desse sentido ao que   no século 21 e, pela dramaticidade   morte”. Mas será que a imagem
            estávamos assistindo. Nas últimas   das imagens, uma nova era de   tem este poder? Afinal, a imagem,
            semanas, as redes sociais nos   representação imagética.        a fotografia é uma representação,
            bombardearam (desculpem         As imagens não seriam mais as   cheia de símbolos e códigos
            o trocadilho) perguntando:      mesmas. Não seguiriam mais      a serem desvendados, é verdade,
           “Onde nós estávamos no dia 11 de   o impacto da realidade tão caro ao   mas sua recepção é muito mais
            setembro?”. Eu sei onde estava.   século passado, mas se voltariam   decisiva. “As  fotografias
            Mas por que é tão necessário    para a sugestão da encenação que   continuam sendo interpretadas
            recordar este momento? Pela     aos poucos se inseriu no século 21.   muito depois de realizadas”,

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