Page 36 - ARTE!Brasileiros #55
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EXPOSIÇÕES MAXWELL ALEXANDRE
pálido. Ali é pintura dentro da pintura, meta-pintura. como lembrança do metal precioso que, prospectado
Maxwell Alexandre nos faz contemplar pessoas que, pelos escravizados nos garimpos de Minas Gerais, fez
por sua vez, observam um painel (dentro do painel) a riqueza de muitos - menos daqueles que o extraiam.
onde se enxerga uma única cor. Um ácido e inteligente O dourado emoldura os elementos da cultura pop, do
comentário sobre o cubo branco, sobre a instituição consumo, os símbolos da ascensão social promovida
cultural que o projeta e que reflete de maneira narcísica pelo esporte, pelo trabalho, pela arte e pela delinquência
só a cor do branco admitido neste espaço, sem espelhar às vezes inevitável no caminho do excluído.
os pretos que também o ocupam. Se há referências a Pode ser que identifiquemos nas pinturas de Max-
Basquiat na pintura de Alexandre, essa influência não well Alexandre algum caráter festivo, de festa profana
tira a potência das obras do artista e, além do mais, e sacra. Nesse caso é preciso compreender o quanto
apresenta-se legítima. Não deixa de ser consagrador a festa se traduz em resistência para aquela parcela da
que jovens artistas negros e negras possam referir-se população que é o alvo preferencial das “balas perdidas”,
a outros igualmente pretos, excelentes como suas das munições da necropolítica que mutilam famílias
influências. e liquidam vidas jovens ou ainda no ventre das jovens FOTOS: GABI CARRERA / DIVULGAÇÃO
A opulência do dourado sobre o azul, ouro irides- mães, mas que não contém nem dissipam o gênio
cente sobre vermelho, ouro cintilante sobre o verde, insubmisso dessa insurgente arte contemporânea
estão presentes à composição dessas pinturas quase preta brasileira.
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