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LIVROS ARTE POLÍTICA











                                                 Atividade do Deops entre os anos 1920
                                                 e 1950 é reunida pela historiadora Maria
                                                 Luiza Tucci Carneiro para analisar os rumos
                                                 das artes gráficas de resistência no Brasil

                                                 por maria hirszman




            MAPEANDO


            OS PAPÉIS DA


            SUBVERSÃO











            em um Curioso paraDoxo, os arquivos policiais reu- liberado para consulta desde 1995 e revisitado por
            nidos pelo Departamento Estadual da Ordem Política   ela em diferentes ocasiões. Cópias dessas gravuras,
            e Social de São Paulo (Deops) com o intuito de reprimir  panfletos, publicações e outros itens que pertencem
            e perseguir qualquer pessoa, movimento ou partido   ao universo dos impressos estavam guardados em
            que se opusesse à ideologia dominante acabaram tor- uma gaveta de seu escritório, à espera de uma ocasião
            nando-se um rico manancial de informações para um   para um estudo mais aprofundado, momento trazido
            alentado estudo exatamente sobre as críticas que queria   pela epidemia e o obrigatório recolhimento domés-
            silenciar. Foi a partir dos dados reunidos ao longo de   tico. Também contribuiu para a urgência em revisitar
            décadas pelas forças de espionagem e repressão que   esse vasto acervo a sensação de que vivemos um
            a historiadora Maria Luiza Tucci Carneiro estruturou  momento no qual várias das situações denunciadas
            sua pesquisa Impressos Subversivos: Arte, Cultura e   pelos artistas e artesãos parecem estar se repetindo e
            Política no Brasil 1924-1964, que procura mapear o tra- agudizando. “É uma provocação que eu faço. Convido
            balho cuidadoso, dedicado e muitas vezes anônimo de   o leitor a se indignar com o que estamos vivendo, cobro
            dezenas de artistas, artesãos e militantes, que lançaram   uma posição, nestes tempos de total anormalidade,
            mão das artes gráficas para denunciar desmandos e   contra todas as formas de violência perpetradas por
            desigualdades, demonstrando uma tenaz resistência   um governo tão insensível”, explica.
            e desejo de transformação política e social. “Além de   Afinal, resistência, crítica e desejo de mudança
            arquivarem os impressos subversivos, também preser- parecem ser o ponto em comum entre uma produ-
            varam, por ironia do destino, a memória da intolerância”,  ção tão diversificada como os impressos estudados
            sintetiza a autora.                             por Tucci Carneiro. Se nos restringirmos a analisar
               No livro, lançado este ano pela editora Intermeios,  apenas publicações que envolvam imagens – que
            a pesquisadora analisa um amplo acervo documental,  constituem uma ampla parte, mas não exclusiva, do
            que veio garimpando ao longo de diversas pesqui- corpo de estudo, que apresenta também uma produ-     FOTOS: REPRODUÇÃO
            sas realizadas junto aos arquivos do Fundo Deops,  ção textual, de mais fácil circulação e disseminação

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