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analógica (contínua, infinitamente detalhada), mas os
computadores usam informações digitais compostas
por números finitos de uns e zeros”.
Ao ser questionado se a tese de 2003 se susten-
ta após quase duas décadas, Hutson responde à
arte!brasileiros que mesmo hoje não descreveria
necessariamente as produções artísticas atuais da iA
como criativas, independentemente de serem visual
ou semanticamente interessantes, porque nem mesmo
a Inteligência Artificial entende que está fazendo arte
ou expressando algo mais profundo. Como colocaria
Seth Lloyd, professor de engenharia mecânica e física
do Mit, “poder de processamento de informação bruto
não significa poder de processamento de informação
sofisticado”. O filósofo Daniel C. Dennett explica que
“essas máquinas (ainda) não têm os objetivos, estra-
tégias ou capacidades de autocrítica e inovação que
lhes permitam transcender seus bancos de dados
através de um pensamento reflexivo sobre seu próprio
raciocínio e seus próprios objetivos”. Entretanto, reitera
Hutson, “esses podem ser conceitos centrados no ser
humano; a iA pode evoluir para ser tão criativa quanto os
humanos, mas de uma forma completamente diferente,
de modo que não reconheceríamos sua criatividade,
nem ela a nossa”.
a Cultura poDe perDer empregos para a ia?
Pode parecer banal enfatizar a centralidade da infor-
mação e da computação, quando até eletrodomésticos
FOTOS: ©️ OBVIOUS / REPRODUÇÃO DO SITE CHRISTIE’S | AI-DA ROBOT PROJECT / REPRODUÇÃO DO SITE
e automóveis estão lotados de microprocessadores
e grande parte da nossa sociedade gira em torno de
utensílios conectados pela internet. Chegamos em
um ponto de não retorno, e para o próximo século, a
indagação sobre a criatividade das máquinas é apenas
uma de muitas incertezas em relação à tecnologia.
Mais palpável, por enquanto, é a possível crise de
desemprego desencadeada pelos avanços na iA junto
da robótica. De cima para baixo, Shattered Space - Ligneme Quercus,
Um estudo de 2013 conduzido por pesquisadores 2019, e Shattered Space - Larmun Quercus, 2019
da Universidade de Oxford e amplamente citado des-
cobriu, por exemplo, que quase metade de todos os maior probabilidade de continuar a ser desempenhados
empregos nos EUA corriam o risco de ser totalmente por humanos. Como o mundo da arte não é apenas
automatizados nas próximas duas décadas. Em escala composto por curadores e colecionadores, é preciso
global, até 2030, pelo menos vinte milhões de empregos se preocupar também. No começo deste ano, durante
na manufatura podem ser substituídos por robôs, de a pandemia, Tim Schneider, editor de mercado para o
acordo com essa análise. A Oxford Economics também portal Artnet, fez um alerta sobre isso: “O que acontece
descobriu que quanto mais repetitivo o trabalho, maior o quando você combina demissões em massa, uma von-
risco de ser eliminado. Entretanto, trabalhos que exigem tade de minimizar as interações pessoais por motivos
mais criatividade, inteligência social ou compaixão têm de saúde e a disposição dos empresários de tecnologia
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