Page 51 - ARTE!Brasileiros #54
P. 51

analógica (contínua, infinitamente detalhada), mas os
            computadores usam informações digitais compostas
            por números finitos de uns e zeros”.
               Ao ser questionado se a tese de 2003 se susten-
            ta após quase duas décadas, Hutson responde à
            arte!brasileiros que mesmo hoje não descreveria
            necessariamente as produções artísticas atuais da iA
            como criativas, independentemente de serem visual
            ou semanticamente interessantes, porque nem mesmo
            a Inteligência Artificial entende que está fazendo arte
            ou expressando algo mais profundo. Como colocaria
            Seth Lloyd, professor de engenharia mecânica e física
            do Mit, “poder de processamento de informação bruto
            não significa poder de processamento de informação
            sofisticado”. O filósofo Daniel C. Dennett explica que
            “essas máquinas (ainda) não têm os objetivos, estra-
            tégias ou capacidades de autocrítica e inovação que
            lhes permitam transcender seus bancos de dados
            através de um pensamento reflexivo sobre seu próprio
            raciocínio e seus próprios objetivos”. Entretanto, reitera
            Hutson, “esses podem ser conceitos centrados no ser
            humano; a iA pode evoluir para ser tão criativa quanto os
            humanos, mas de uma forma completamente diferente,
            de modo que não reconheceríamos sua criatividade,
            nem ela a nossa”.

            a Cultura poDe perDer empregos para a ia?
            Pode parecer banal enfatizar a centralidade da infor-
            mação e da computação, quando até eletrodomésticos
     FOTOS: ©️ OBVIOUS / REPRODUÇÃO DO SITE CHRISTIE’S | AI-DA ROBOT PROJECT / REPRODUÇÃO DO SITE
            e automóveis estão lotados de microprocessadores
            e grande parte da nossa sociedade gira em torno de
            utensílios conectados pela internet. Chegamos em
            um ponto de não retorno, e para o próximo século, a
            indagação sobre a criatividade das máquinas é apenas
            uma de muitas incertezas em relação à tecnologia.
            Mais palpável, por enquanto, é a possível crise de
            desemprego desencadeada pelos avanços na iA junto
            da robótica.                                     De cima para baixo, Shattered Space - Ligneme Quercus,
               Um estudo de 2013 conduzido por pesquisadores   2019, e Shattered Space - Larmun Quercus, 2019
            da Universidade de Oxford e amplamente citado des-
            cobriu, por exemplo, que quase metade de todos os   maior probabilidade de continuar a ser desempenhados
            empregos nos EUA corriam o risco de ser totalmente   por humanos. Como o mundo da arte não é apenas
            automatizados nas próximas duas décadas. Em escala   composto por curadores e colecionadores, é preciso
            global, até 2030, pelo menos vinte milhões de empregos   se preocupar também. No começo deste ano, durante
            na manufatura podem ser substituídos por robôs, de   a pandemia, Tim Schneider, editor de mercado para o
            acordo com essa análise. A Oxford Economics também   portal Artnet, fez um alerta sobre isso: “O que acontece
            descobriu que quanto mais repetitivo o trabalho, maior o   quando você combina demissões em massa, uma von-
            risco de ser eliminado. Entretanto, trabalhos que exigem   tade de minimizar as interações pessoais por motivos
            mais criatividade, inteligência social ou compaixão têm   de saúde e a disposição dos empresários de tecnologia

                                                                                                         51
   46   47   48   49   50   51   52   53   54   55   56