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EXPOSIÇÕES SÃO PAULO
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[1] FAU-USP, 1961,
Vilanova Artigas e
Carlos Cascaldi;
[2] Parque Novo Santo
Amaro, 2009, Vigliecca
e Associados; [3] Vista
da exposição no Sesc
24 de Maio; [4] Conjunto
Residencial Pedregulho,
1946, Affonso Reidy;
[5] Casa das Canoas,
1951, Oscar Niemeyer
romantismo indígena e da escravatura para a cultura Buarque e Roberto Menescal. Marca o período da cas-
industrial e urbana”. Foi o momento da Semana de sação dos arquitetos Artigas e Paulo Mendes da Rocha
Arte Moderna e do Manifesto Antropófago (1928), de e de outros intelectuais que são exilados. As favelas se
Oswald de Andrade, preocupados com a construção multiplicam em São Paulo e numa outra ponta social
da estética que incluía as raízes do Brasil. Destacam- Lina Bo Bardi transforma uma fábrica de tambores no
-se n mostra a primeira casa modernista do Brasil, de atual Sesc Pompeia e Eurico Prado Lopes e Luiz Telles
Gregori Warchavchik em São Paulo, marco inicial da projetam o Centro Cultural São Paulo, ambos espaços
exposição, passando pelo Ministério da Educação e lúdicos, de cultura e convivência. Claudio Tozzi, um dos
Saúde, no Rio de Janeiro, até chegar ao conjunto da artistas que melhor retratou o período da repressão,
Pampulha, em Belo Horizonte. pinta uma de suas obras emblemáticas, Multidão (1968).
A Base é uma Só (1943-1957) nasce da música Samba O núcleo Inteiro e Não pela Metade (1985-2001) parte
de uma Nota Só, de João Gilberto, que marca a cria- da música Comida, dos Titãs. “A gente não quer só
ção da bossa nova, movimento carioca que colocou a comida...”, quando o rock brasileiro lança bandas por
música brasileira num patamar internacional. O período todo o país. Na arquitetura, em contraponto aos conjun-
escolhido pelos curadores vai da Pampulha ao concur- tos habitacionais construídos pela ditadura, aparecem
so para o plano piloto de Brasília e às novas cidades o programa Favela Bairro no Rio e, em São Paulo, as
projetadas no Amapá e no Mato Grosso, que abrem o organizações cooperativas. Nas artes, dois artistas
caminho para Brasília. multimidias cujas obras pertencem ao Acervo Sesc de
No núcleo Contra os Chapadões Meu Nariz (1957- Arte Brasileira se destacam: Nelson Leirner, com Obra
1969), os arquitetos se inspiram no verso da Tropicália, Sem Título da Série Sotheby´s (1999), e Paulo Bruscky,
música de Caetano Veloso feita em um momento de com Poema Linguístico (1992). FOTOS: VITOR PENTEADO/SESC 24 DE MAIO | LEONARDO FINOTTI/ACERVO CASA DE ARQUITECTURA DE PORTUGAL
desbunde da música brasileira influenciada pela con- Fecha a exposição Sentimento na Sola do Pé (2001-
tracultura. Rubens Gerchman cria a A Bela Lindoneia 2018), nome tirado do verso de um rap dos Racionais
(versão porta-retrato), de 1967. Na arquitetura surgem MC´s, que fala do cotidiano violento das grandes cida-
os primeiros esboços de Niemeyer antes do lançamento des. É quando surgem também os CEUs - Centros
do concurso nacional para o plano piloto da Brasília. Em Educacionais Unificados, criados pela prefeitura de
texto de 1970, e presente na mostra, Clarice Lispector diz São Paulo, no governo de Marta Suplicy. Um vídeo traz
que “Brasília é construída na linha do horizonte. Brasília cenas do cotidiano desigual que invade as cidades
é artificial. Tão artificial como devia ter sido o mundo brasileiras e nos faz voltar ao sábio comentário de
quando foi criado”. Paulo Mendes da Rocha ao abrir essa exposição: “A
A mostra se ilumina no núcleo Eu Vi um Brasil na TV arquitetura é uma maneira de dizer quem somos nós
(1969-1985), com a trilha de Bye Bye Brasil, de Chico e quem seremos nós”.
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