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Portrait of Edmond Belamy, primeira obra feita com programa de IA a ir a um grande leilão




            colaboração com os humanos, ela pinta e esculpe, e   não apoiados por uma compreensão real. Eles usam
            também faz performances. “Eu sou uma artista contem- padrões de arranjos de palavras, notas e linhas, mas
            porânea e sou arte contemporânea, ao mesmo tempo”,  encontram esses padrões usando estatísticas e não
            reconhece Ai-Da, para logo depois propor a questão   podem explicar o porquê estão lá”. Hutson elenca três
            que sua audiência já devia estar se propondo: “Como   razões principais para isso: “Primeiro, os computa-
            um robô pode ser um artista?”. Embora a pergunta, a   dores funcionam com hardware diferente do cérebro
            princípio, possa parecer intrincada, há outro patamar  humano. Cérebros de consistência gelatinosa cheios
            deste questionamento que é mais desafiador: “Um   de neurônios e placas achatadas de silício cheias de
            robô pode ser criativo?”                        transistores nunca se comportarão da mesma forma e
               Ainda em 2003, o autor e jornalista científico Mat- nunca poderão ‘rodar o mesmo software’. Em segun-
            thew Hutson explorou o tema em sua tese de mestrado   do lugar, nós, humanos, não nos entendemos bem o
            no Instituto de Tecnologia de Massachusetts (Mit).  suficiente para traduzir ‘nosso software’ para outra
            Em Inteligência Artificial e Criatividade Musical: Cal- peça de hardware. Terceiro, os computadores são
            culando a Décima de Beethoven, ele argumenta que   desencarnados e a compreensão requer viver fisica-
           “os computadores simulam o comportamento humano   mente no mundo”. Sobre o último tópico, ele pondera
            usando atalhos. Eles podem parecer humanos por fora   que qualidades particulares da inteligência humana
            (podem escrever piadas ou poemas), mas funcionam de   resultam diretamente da estrutura física particular de
            forma diferente sob o capô. As fachadas são adereços,  nossos cérebros e corpos. “Vivemos em uma realidade

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