Page 44 - ARTE!Brasileiros #54
P. 44

EXPOSIÇÕES SÃO PAULO







            INFINITO VÃO: UMA


            ABORDAGEM SINGULAR


            SOBRE A HISTÓRIA DA


            ARQUITETURA BRASILEIRA





                                           Com curadoria de Guilherme
                                           Wisnik e Fernando Serapião,
                                           mostra divide-se em seis
                                           núcleos pautados em versos de
                                           músicas que marcaram períodos
                                           diferentes da cultura nacional


                                           por leonor amarante



            infinitO vãO: 90 anOs de arquitetura brasileira,   O título, Infinito Vão, vem dos versos de Drão (1982),
            no Sesc 24 de Maio, subverte qualquer conceito de expo- música de Gilberto Gil: “O verdadeiro amor é vão, estende-se
            sição do gênero. Cênica, sem ser teatral, tem narrativa   infinito, imenso monolito, nossa arquitetura”. Na linguagem
            centrada na hibridação de várias poéticas, como música,  dos arquitetos curadores, “vão é algo que se vence, um
            artes plásticas, literatura e vídeo, e deixa o visitante   desafio a superar, é reduzir a quantidade de apoios, expandir
            pluralizar esse encontro durante toda sua travessia.  as lajes horizontalmente, lançar-se no vazio aéreo abrindo
               Com curadoria de Guilherme Wisnik e Fernando   uma imensa luz ao rés-do-chão. Na língua portuguesa é
            Serapião, a mostra já foi exposta em 2019 na Casa da   algo que não deu certo, foi feito em vão”.
            Arquitetura de Portugal e reúne projetos de 96 arqui-  Logo na entrada da exposição, sons de vídeos curtos
            tetos. O arranjo temporal abarca desde os anos 1920,  com imagens de diferentes décadas dão o tom. Além
            marcados pela Semana de Arte Moderna de 1922, até   da seleção de projetos escolhidos, músicas de Caetano,
            os dias atuais, com projetos de nomes já esperados   Gil, Arnaldo Antunes e Racionais MCs se misturam com
            como Oscar Niemeyer, Vilanova Artigas, Paulo Mendes   obras de artistas plásticos como Claudio Tozzi, Nelson
            da Rocha, Lucio Costa e Lina Bo Bardi, que se somam   Leirner, Rubens Gerchman, Paulo Bruscky e com os
            a outros menos conhecidos para juntos contarem uma   textos breves de Leminski, Rem Koolhaas, Álvaro Siza,
            história de nove décadas.                       Mário Pedrosa... Todos juntos estimulam a percepção
              Visitar a mostra não é um convite, mas uma recomen- e aumentam o prazer da visita.
            dação de Guilherme Wisnik, “porque ela dialoga com   A chave de Infinito Vão são as músicas que abrem  FOTOS: LEONARDO FINOTTI/ACERVO CASA DE ARQUITECTURA DE PORTUGAL
            a nossa realidade”. Uma dose emotiva embala Infinito   e contextualizam cada um dos seis núcleos em que a
            Vão pelo momento de obscurantismo sociopolítico e   mostra está dividida, além dos projetos arquitetônicos
            cultural que vivemos. A exposição prova que a arqui- que representam cada um deles. Do Guarani ao Gua-
            tetura pode representar muito mais do que ela mesma.  raná (1924-1943) parte da marchinha carnavalesca de
            Na abertura da mostra, Paulo Mendes da Rocha diz que   Lamartine Babo, História do Brasil, com a pergunta que
           “a arquitetura é uma maneira de dizer quem somos nós   anima gerações: “Quem foi que inventou o Brasil?...”.
            e quem seremos nós”.                            Neste período, o país, como observa Wisnik, “salta do

            44
   39   40   41   42   43   44   45   46   47   48   49