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EXPOSIÇÕES SÃO PAULO
INFINITO VÃO: UMA
ABORDAGEM SINGULAR
SOBRE A HISTÓRIA DA
ARQUITETURA BRASILEIRA
Com curadoria de Guilherme
Wisnik e Fernando Serapião,
mostra divide-se em seis
núcleos pautados em versos de
músicas que marcaram períodos
diferentes da cultura nacional
por leonor amarante
infinitO vãO: 90 anOs de arquitetura brasileira, O título, Infinito Vão, vem dos versos de Drão (1982),
no Sesc 24 de Maio, subverte qualquer conceito de expo- música de Gilberto Gil: “O verdadeiro amor é vão, estende-se
sição do gênero. Cênica, sem ser teatral, tem narrativa infinito, imenso monolito, nossa arquitetura”. Na linguagem
centrada na hibridação de várias poéticas, como música, dos arquitetos curadores, “vão é algo que se vence, um
artes plásticas, literatura e vídeo, e deixa o visitante desafio a superar, é reduzir a quantidade de apoios, expandir
pluralizar esse encontro durante toda sua travessia. as lajes horizontalmente, lançar-se no vazio aéreo abrindo
Com curadoria de Guilherme Wisnik e Fernando uma imensa luz ao rés-do-chão. Na língua portuguesa é
Serapião, a mostra já foi exposta em 2019 na Casa da algo que não deu certo, foi feito em vão”.
Arquitetura de Portugal e reúne projetos de 96 arqui- Logo na entrada da exposição, sons de vídeos curtos
tetos. O arranjo temporal abarca desde os anos 1920, com imagens de diferentes décadas dão o tom. Além
marcados pela Semana de Arte Moderna de 1922, até da seleção de projetos escolhidos, músicas de Caetano,
os dias atuais, com projetos de nomes já esperados Gil, Arnaldo Antunes e Racionais MCs se misturam com
como Oscar Niemeyer, Vilanova Artigas, Paulo Mendes obras de artistas plásticos como Claudio Tozzi, Nelson
da Rocha, Lucio Costa e Lina Bo Bardi, que se somam Leirner, Rubens Gerchman, Paulo Bruscky e com os
a outros menos conhecidos para juntos contarem uma textos breves de Leminski, Rem Koolhaas, Álvaro Siza,
história de nove décadas. Mário Pedrosa... Todos juntos estimulam a percepção
Visitar a mostra não é um convite, mas uma recomen- e aumentam o prazer da visita.
dação de Guilherme Wisnik, “porque ela dialoga com A chave de Infinito Vão são as músicas que abrem FOTOS: LEONARDO FINOTTI/ACERVO CASA DE ARQUITECTURA DE PORTUGAL
a nossa realidade”. Uma dose emotiva embala Infinito e contextualizam cada um dos seis núcleos em que a
Vão pelo momento de obscurantismo sociopolítico e mostra está dividida, além dos projetos arquitetônicos
cultural que vivemos. A exposição prova que a arqui- que representam cada um deles. Do Guarani ao Gua-
tetura pode representar muito mais do que ela mesma. raná (1924-1943) parte da marchinha carnavalesca de
Na abertura da mostra, Paulo Mendes da Rocha diz que Lamartine Babo, História do Brasil, com a pergunta que
“a arquitetura é uma maneira de dizer quem somos nós anima gerações: “Quem foi que inventou o Brasil?...”.
e quem seremos nós”. Neste período, o país, como observa Wisnik, “salta do
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