Page 41 - ARTE!Brasileiros #54
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A exposição paulistana reúne,
            em sua maioria, obras dos anos
            1960 e 1970 feitas no clima da
            contracultura, guerra do Vietnã
            e ditadura brasileira. As pintu-
            ras são singulares, progressis-
            tas e reafirmam o lastro de um
            artista múltiplo, aparentemente
            simples, mas conceitualmente
            sofisticado, que transitou por
            vários segmentos da arte. Pintor,
            artista gráfico, gravador, exe-
            cutou figurinos e cenários para
            teatro, capas de discos e revistas,
            colocando saberes a serviço de
            uma revolução pessoal com ima-
            gens incluídas cruamente sobre
            telas de fundo sempre branco,
            como fragmentos gravitando no
            espaço. Só começou a pintar a
            base de seus quadros no final
            da ditadura militar.
               Todas as obras tratam da
            história do país carnavalizadas
            dentro de um universo eclético
            em que mescla desde a imagem
            de São Sebastião, padroeiro de
            Bagé, sua cidade natal, e do Rio
            de Janeiro até garotas de biquíni,
            natureza tropical, fotos de ami-
            gos, Corcovado, índios, cachos
            de banana e passistas de escola
            de samba. O ideário de Glauco é
      FOTOS: DING MUSA/CORTESIA BERGAMIN & GOMIDE  da bandeira brasileira que tingem todos os seus   Persona (da série Accuratissima
            profano, mesmo quando retrata
            Cristo e alguns santos, tudo embalado com as cores
                                                                              Brasiliae Tabula), Glauco Rodrigues, 1974
            quadros. Com isso, ele confirma suas intenções
            carregadas de críticas ao momento político social da
            época, como a tela Acontece, Que Somos Canibais!
            que nomeia a exposição.
               Glauco nasce em 1929, em Bagé, Rio Grande do Sul,
            onde começa na arte como gravador, depois trans-
            fere-se para Porto Alegre e se junta aos gravadores

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