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EXPOSIÇÕES SÃO PAULO








                                    Considerado um artista atual pelo crítico francês
                                    Nicolas Bourriaud, Rodrigues carnavalizou a
                                    história visual do Brasil dentro de um mundo
                                    eclético, ora esfuziante, ora apocalíptico

                                    por leonor amarante




           “ACONTECE QUE SOMOS


           CANIBAIS!”, DIZ O POP


           TROPICALISTA DE


           GLAUCO RODRIGUES








                                   a mOstra acOntece que sOmOs canibais!, de Glauco Rodri-
                                    gues (1929-2004), tem clima de escola de samba, cheia de cores
                                    e alegorias, nascidas sob a influência da arte pop. As pinturas
                                    expostas na galeria Bergamin & Gomide são como um gesto de
                                    resgate do artista que ficou esquecido por um tempo. Para Lilia
                                    Schwarcz, que assina o texto da mostra, isso ocorreu “talvez
                                    porque ele não correspondesse ou não se encaixava de maneira
                                    óbvia nos cânones do modernismo da época”. Thiago Gomide,
                                    proprietário da galeria junto com Antonia Bergamin, lembra que
                                    eles expuseram Glauco há quase dois anos na coletiva A Burrice
                                    dos Homens (2019), com curadoria de Fernanda Brenner, do Pivô,
                                    e que pretendem trabalhar com ele, sem exclusividade.
                                      O universo de Glauco é povoado de personagens díspares,
                                    vindos de várias épocas, convivendo simultaneamente no pre-
                                    sente, passado e futuro. Tudo aparentemente desconectado,
                                    mas realizado genialmente dentro de uma lógica cognitiva com
                                    um mundo ora esfuziante, ora apocalíptico. Isso chama a aten-
                                    ção do crítico francês Nicolas Bourriaud, que dedicou uma sala
                                    a Glauco na mostra L´Ange de l´Histoire (Anjo da História), em
                                   2013, na École Nationale de Beaux Arts, em Paris. Na ocasião,       FOTO: JAIME ACIOLI / CORTESIA BERGAMIN & GOMIDE
                                    a revista Art Press publica matéria e coloca a obra de Glauco
                                    na capa. Em 2019, Bourriaud volta a expor Glauco na Bienal de
                                    Istambul, quando foi curador geral, e quebra o paradigma de que
                                    a arte brasileira tem sempre que passar pelo projeto construtivo,
                                    dos concretos e neoconcretos.

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