Page 38 - ARTE!Brasileiros #54
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EXPOSIÇÕES SÃO PAULO
Considerado um artista atual pelo crítico francês
Nicolas Bourriaud, Rodrigues carnavalizou a
história visual do Brasil dentro de um mundo
eclético, ora esfuziante, ora apocalíptico
por leonor amarante
“ACONTECE QUE SOMOS
CANIBAIS!”, DIZ O POP
TROPICALISTA DE
GLAUCO RODRIGUES
a mOstra acOntece que sOmOs canibais!, de Glauco Rodri-
gues (1929-2004), tem clima de escola de samba, cheia de cores
e alegorias, nascidas sob a influência da arte pop. As pinturas
expostas na galeria Bergamin & Gomide são como um gesto de
resgate do artista que ficou esquecido por um tempo. Para Lilia
Schwarcz, que assina o texto da mostra, isso ocorreu “talvez
porque ele não correspondesse ou não se encaixava de maneira
óbvia nos cânones do modernismo da época”. Thiago Gomide,
proprietário da galeria junto com Antonia Bergamin, lembra que
eles expuseram Glauco há quase dois anos na coletiva A Burrice
dos Homens (2019), com curadoria de Fernanda Brenner, do Pivô,
e que pretendem trabalhar com ele, sem exclusividade.
O universo de Glauco é povoado de personagens díspares,
vindos de várias épocas, convivendo simultaneamente no pre-
sente, passado e futuro. Tudo aparentemente desconectado,
mas realizado genialmente dentro de uma lógica cognitiva com
um mundo ora esfuziante, ora apocalíptico. Isso chama a aten-
ção do crítico francês Nicolas Bourriaud, que dedicou uma sala
a Glauco na mostra L´Ange de l´Histoire (Anjo da História), em
2013, na École Nationale de Beaux Arts, em Paris. Na ocasião, FOTO: JAIME ACIOLI / CORTESIA BERGAMIN & GOMIDE
a revista Art Press publica matéria e coloca a obra de Glauco
na capa. Em 2019, Bourriaud volta a expor Glauco na Bienal de
Istambul, quando foi curador geral, e quebra o paradigma de que
a arte brasileira tem sempre que passar pelo projeto construtivo,
dos concretos e neoconcretos.
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