Page 21 - ARTE!Brasileiros #53
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contexto de juros baixos, dólar alto e ainda com uma
pandemia, os ativos passam a ter muito valor. “O que
você vê de lançamentos de apartamentos é uma loucura,
ou mesmo os números sobre recordes de vendas de
carros importados.” Após dois leilões difíceis no meio
do ano, Cravo cita uma forte retomada em seu último
evento, realizado em novembro, no qual uma obra de
Jorge Guinle, por exemplo, tinha preço inicial de R$ 180
mil e foi arrematada por R$ 260 mil.
novos CompraDores
Mas o fato é que não apenas obras de grande valor e de
artistas consagrados foram comercializadas durante
2020. Em uma outra ponta, trabalhos de nomes jovens,
com valores mais baixos e vendidas muitas vezes por
galerias menores, também ganharam fôlego comercial
no período. Segundo a pesquisa do projeto Latitude,
as galerias que movimentaram em 2019 menos de
R$ 500 mil tiveram este ano, proporcionalmente, um
desempenho melhor do que as que movimentaram até
R$ 10 milhões. Segundo Bailune, a Aura, que sempre
teve um público jovem e prática em fazer negócios com
compradores de primeira viagem, concretizou uma série
de transações que estavam travadas antes da pandemia.
“Vários clientes que a gente prospectava passaram a
comprar, viraram clientes da galeria.”
A entrada de um novo público no mercado é confir-
mada por outros galeristas e diretores de feira. Entre os
motivos apontados, para além da já citada permanência
Obra do artista Sérgio Camargo vendida em casa que afetou todas as gerações, está o fato de
este ano pela galeria Bergamin & Gomide
os mais jovens terem maior facilidade e costume de
comprar no universo online - espaço de vendas que
galerias com esse perfil que foi possível manter ou ganhou maior relevância na pandemia. Segundo Perl-
mesmo superar o patamar de vendas do ano passado”, man, dados do meio do ano mostravam que na Artsoul,
afirma Fernanda Feitosa, fundadora e diretora da sp-Arte. plataforma de venda de arte contemporânea, o número
Alexandre Gabriel, sócio da Fortes D’Aloia e Gabriel, de acessos tinha triplicado e o de vendas duplicado.
também percebe este movimento: “Estamos lidando Fernanda Feitosa conta que tanto na sp-Arte quanto na
com um público que tem um excedente de capital, e sp-Foto cerca de 70% dos visitantes deste ano estavam
esse excedente vai para algum lugar. Quando você tem ali pela primeira vez, ou seja, não eram frequentadores
uma oscilação grande de mercado - em meio a esse das edições presenciais realizadas pela marca.
pandemônio, com tamanha instabilidade de governo Neste sentido, a transparência adotada tanto pelas
-, um colecionador com segurança e uma boa relação plataformas de venda, os market places, quanto pelas
com a galeria sabe que vai poder fazer um bom negócio, feiras, que em grande parte passaram a fornecer dados
e que talvez tenha acesso a obras que antes não teria”. detalhados e preços das obras, pode ter facilitado a
O sucesso de vendas visto em parte dos leilões, que vida de jovens colecionadores. “Acho que isso evita um
trabalham com o mercado secundário e majoritariamente constrangimento que existe, principalmente em feiras,
com artistas renomados, também reforça a hipótese de pessoas que não fazem ideia dos preços e não se
de que o investimento em arte foi para alguns uma sentem confortáveis em frequentar esse segmento”, diz
espécie de diversificação de investimentos. Para Aloísio ele. Alexandre Roesler, que participou de cerca de uma
Cravo, um dos mais importantes leiloeiros do país, num dezena de feiras virtuais no ano, segue a mesma linha:
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