Page 76 - ARTE!Brasileiros #52
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REPORTAGEM FOTOGRAFIA
“Há uma sensação de ser testemunhado. Não
posso ajudar as pessoas, não tenho recursos
para trazer mudanças. Mas eu ofereço uma
espécie de testemunho. E algumas pessoas
parecem valorizar e apreciar.”
Gideon Mendel
Submerged Portraits, ele começou a documentar enchentes em
2007, quando uma série de chuvas de verão fez com que grande
parte do centro e do norte da Grã-Bretanha ficasse submerso. Em
questão de semanas do primeiro episódio, 30 milhões de pessoas
na Índia, Bangladesh e Nepal tiveram que escapar de enchentes
muito maiores do que o normal. O contraste entre os impactos
dos dois eventos, enquanto dividiam certa vulnerabilidade que
parece fornecer um estímulo para união, motivou o fotógrafo a dar
liga à ideia de retratar as vítimas de enchentes. Desde então, ele
têm visitado o Haiti, Paquistão, Austrália, Bangladesh, Carolina
do Sul, Caxemira e Brasil, para citar alguns dos 13 países países
que, dentro do projeto, representam 19 enchentes.
Antes de desenvolver Submerged Portraits (englobado por
um projeto maior chamado Drowning World), Mendel já não era
um novato. Ele havia representado imageticamente temas como
o Apartheid e a crise do hiv/aids na África do Sul, trabalho pelo
qual venceu o World Press Photo. Ele encara Submerged Por-
traits como um distanciamento do fotojornalismo clássico: “Eu
não sou um documentarista, sou uma espécie de interveniente”,
afirma. “Não estou apenas fotografando o que está diante de mim,
estou construindo cenários com as pessoas. Estou escolhendo
o fundo, estou escolhendo onde colocar as pessoas. Eu não
estou indo até elas e tirando suas fotos. Não estou produzindo
evidências, estou procurando fazer imagens que falam algo por
serem esteticamente poderosas e até mesmo por conta de uma
beleza desconcertante em meio ao horror.”
Há algo desconcertante sobre as imagens. Por um lado são
retratos convencionais de pessoas em pé, na frente da câmera e
olhando para ela. No entanto, o contexto, a paisagem e o ambiente
são extraordinários. Logo, eles são desconcertantes juntos. Esse
formato clássico do retrato ajuda a conferir honestidade para
Submerged Portraits, uma admissão da manipulação da cena.
Quando veio para Rio Branco, em 2013, o nível do Rio Acre
havia alcançado 17,88 metros, tendo ultrapassado sua cota histó-
rica registrada em 1997, quando atingiu a marca de 17,66 metros.
À época, cinco abrigos públicos
foram montados na capital para
receber as vítimas da enchente: 6
mil pessoas desabrigadas e mais Foto da série Floodlines
outras 71 mil afetadas diretamente. registra a marca deixada
pelo aumento no nível da
Quarenta dos 212 bairros da cidade água no distrito de Taquari.
foram impactados com a cheia do Rio Branco, Brasil, 2015
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