Page 75 - ARTE!Brasileiros #52
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Fotógrafo sul-africano Gideon Mendel produz,
ao redor do mundo, séries que denunciam
as mudanças climáticas e seus impactos
na sobrevivência humana, oferecendo uma
espécie de testemunho aos seus retratados
por miguel groisman
VÁ E VEJA
“houve um ponto, para mim, em que eu estava pesquisando
imagens referentes ao aquecimento global e senti que elas eram
muitos distantes. Eram imagens de ursos polares e geleiras e,
frequentemente, cenários esteticamente lindos”, relata Gideon
Mendel. O fotógrafo sul-africano - com um corpo de trabalho
referente aos desastres climáticos que ultrapassa uma década
- busca oferecer uma outra faceta para a representação em ima-
gens de uma das crises globais mais desconcertantes.
Para Mendel, muito do diálogo em torno da mudança climá-
tica e da resposta das organizações está ligado a um tipo de
movimento ecológico branco, de classe média e anteriormente
hippie, o que estaria limitando sua eficácia, tendo em vista que
as mudanças climáticas afetam muitas pessoas de cor em todo o
mundo. “Eu realmente sinto que é necessário uma injeção de um
tipo mais radical de ativismo”, confessa. A observação de Gideon
não é despropositada, como nota o pesquisador Emmanuel
Skoufias: “Enquanto os olhos do mundo estão fixos em ursos
polares, pinguins da Antártida e outros habitantes ameaçados
pelo derretimento das calotas polares da Terra, relativamente
poucos pesquisadores têm prestado a atenção devida - até anos
recentes - para quantificar os possíveis efeitos de longo prazo
da mudança climática na sobrevivência humana”.
“Eu trago as pessoas para a representação das mudanças cli-
máticas”, afirma Gideon, radicado em Londres. Com seu projeto
”Minha casa foi construída sobre
FOTOS GIDEON MENDEL submerso. Tudo o que podemos fazer é
palafitas, mas agora o andar de baixo está
esperar a água descer, limpar e continuar”
João Pereira de Araújo, Rio Branco, Brasil, 2015
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