Page 72 - ARTE!Brasileiros #52
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REPORTAGEM DECOLONIALIDADE
Shima na performance A Quarta Raça, no Monumento às Três Raças em Goiania
parte desse movimento, “pois na decolonialidade está Segundo Cyshimi, esse é um dos pontos que dificulta
intrínseca uma oposição à história colonial, imperialista, a representatividade nas instituições de arte e na mídia.
patriarcal e normativa”, explica a artista. Dessa forma, “Sinto falta que essas instituições e veículos também nos
propõem que a discussão se expanda não só à pauta enxerguem mais profundamente, tentando conhecer a
asiático-brasileira, mas à inclusão de corpos dissidentes multiplicidade das nossas produções individuais e não
como um todo, com suas interseccionalidades. só nos colocando como categoria”, diz. Para Dudu Tsuda,
essa postura não significa que não exista um esforço de
no munDo Da arte inclusão por parte das instituições, mas está ligada à
É nesse ponto que adentramos o circuito das artes ausência de asiáticos brasileiros em posições de poder
e passamos a refletir acerca da representatividade nesses espaços. “O que nos resta sempre é um olhar da
presente nele. Para o artista multimídia, músico, per- branquitude para os nossos corpos e fazeres artísticos.”
former e professor Dudu Tsuda, “o sistema de arte Para ambos, isso acaba resultando em um exotismo e
brasileiro é um reflexo da nossa sociedade, estrutural- uma romantização das identidades racializadas.
mente racista e centrada na cultura branca europeia Singh Bean acredita que esse olhar do circuito das
e norte-americana. Ele reflete as estruturas de poder artes muitas vezes limita as identidades racializadas ao CORTESIA DO ARTISTA
sócio-político-econômico-culturais, hegemonicamente invés de representá-las de fato. “Às vezes, parece que
dominadas pela branquitude”. a gente é chamado para expor para ser um totem do
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