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Imagem do filme Konãgxeka: O Dilúvio Maxakalí, 2016, de Charles Bicalho e Isael Maxakalí




            estou apresentando ele a vocês de   E foi o desejo de fazer o dese- artista segue “cuidando da roça, bus-
            uma maneira que vocês conseguem   nho falar e andar que desencadeou   cando lenha, brincando” e trabalhando
            entender, que é pelos sentidos do   o interesse pelas animações, que se   para erguer a nova aldeia Maxakali em
            mundo ocidental - pela audição e   concretizou em anos mais recentes   Ladainha, enquanto exerce seu cargo
            visão -, mas eu também quero que   em dois filmes. Ao lado de Bicalho,  político e o papel de liderança local.
            vocês compreendam que existe algu-  após a aprovação de um projeto no   Está também fazendo mestrado na
            ma coisa muito maior do que só o   Edital Filme em Minas 2015, produziu  Ufmg, “e se der, depois vou fazer o
            que vocês estão vendo e escutando’.”  Konãgxeka: o Dilúvio Maxakali, cur- doutorado, para clarear o nome dos
                                             ta exibido em uma série de festivais   Maxakali, do meu povo”, conclui.
            Desenhos e animações             nacionais e internacionais. Outro   Segundo Baniwa, “apesar de
            Não foi muito depois do interesse   filme que ganhou destaque foi Grin,  algumas pessoas não consegui-
            pelo cinema que Isael iniciou sua prá-  de Isael e Roney Freitas, exibido e pre- rem entender o quão complexo é o
            tica como desenhista.  No começo   miado na 21a Bienal Sesc_Videobrasil.  mundo Maxakali, assim como são os
            dos anos 2000 passou a utilizar prin- O documentário resgata, através de   outro mundos indígenas, acho que o
            cipalmente aquarela para desenhar   uma série de entrevistas, as memó- trabalho do Isael consegue alcançar
            a natureza, os animais e pessoas.  rias dos Maxakali sobre a formação da   as pessoas de maneira sensível. E
            Apesar de entender como práticas   Guarda Rural Indígena (grin) duran- se talvez em um primeiro contato
            distintas, diz que ambas produções   te a ditadura militar, com relatos de   não consiga ser entendido, é uma
            fazem parte de um mesmo desejo.  violências sofridas pela população.  semente. Uma semente que é planta-
            “Para mim toda imagem é viva, é    Atualmente, a recém-aberta 18    da e que o tempo irá dizer se eclode
                                                                          a
            espiritual, tanto no filme quanto no   edição do Doclisboa apresenta Yãmi- ou se ela morre, nesse solo em que
            desenho. Se eu desenho, só falta   yhex, as Mulheres-espírito, novo fil- eu, Isael e outros artistas indígenas
            colocar coração, para andar”, afirma.  me de Isael e Sueli. Enquanto isso, o   estamos plantando”.

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