Page 67 - ARTE!Brasileiros #52
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Imagem do filme Konãgxeka: O Dilúvio Maxakalí, 2016, de Charles Bicalho e Isael Maxakalí
estou apresentando ele a vocês de E foi o desejo de fazer o dese- artista segue “cuidando da roça, bus-
uma maneira que vocês conseguem nho falar e andar que desencadeou cando lenha, brincando” e trabalhando
entender, que é pelos sentidos do o interesse pelas animações, que se para erguer a nova aldeia Maxakali em
mundo ocidental - pela audição e concretizou em anos mais recentes Ladainha, enquanto exerce seu cargo
visão -, mas eu também quero que em dois filmes. Ao lado de Bicalho, político e o papel de liderança local.
vocês compreendam que existe algu- após a aprovação de um projeto no Está também fazendo mestrado na
ma coisa muito maior do que só o Edital Filme em Minas 2015, produziu Ufmg, “e se der, depois vou fazer o
que vocês estão vendo e escutando’.” Konãgxeka: o Dilúvio Maxakali, cur- doutorado, para clarear o nome dos
ta exibido em uma série de festivais Maxakali, do meu povo”, conclui.
Desenhos e animações nacionais e internacionais. Outro Segundo Baniwa, “apesar de
Não foi muito depois do interesse filme que ganhou destaque foi Grin, algumas pessoas não consegui-
pelo cinema que Isael iniciou sua prá- de Isael e Roney Freitas, exibido e pre- rem entender o quão complexo é o
tica como desenhista. No começo miado na 21a Bienal Sesc_Videobrasil. mundo Maxakali, assim como são os
dos anos 2000 passou a utilizar prin- O documentário resgata, através de outro mundos indígenas, acho que o
cipalmente aquarela para desenhar uma série de entrevistas, as memó- trabalho do Isael consegue alcançar
a natureza, os animais e pessoas. rias dos Maxakali sobre a formação da as pessoas de maneira sensível. E
Apesar de entender como práticas Guarda Rural Indígena (grin) duran- se talvez em um primeiro contato
distintas, diz que ambas produções te a ditadura militar, com relatos de não consiga ser entendido, é uma
fazem parte de um mesmo desejo. violências sofridas pela população. semente. Uma semente que é planta-
“Para mim toda imagem é viva, é Atualmente, a recém-aberta 18 da e que o tempo irá dizer se eclode
a
espiritual, tanto no filme quanto no edição do Doclisboa apresenta Yãmi- ou se ela morre, nesse solo em que
desenho. Se eu desenho, só falta yhex, as Mulheres-espírito, novo fil- eu, Isael e outros artistas indígenas
colocar coração, para andar”, afirma. me de Isael e Sueli. Enquanto isso, o estamos plantando”.
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