Page 53 - ARTE!Brasileiros #52
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Trópicos malditos, gozosos e devotos 15, 2020, algodão, lã e fibra acrílica
supostamente rondavam a casa e as mentes, até que o de sombras, e Fear of, uma assemblage na qual se
sentimento vago de assombração se transformou em nomeiam e entrelaçam medos potentes e paralisantes
um terreno seguro e livre de ameaça. Esse processo da sociedade contemporânea. “A gente que viveu, foi
de troca e investigação acabou fornecendo-lhe um criança durante a ditadura militar, e hoje tem filhos, vê
amplo repertório de imagens e referências que vêm o ciclo, o retorno do recalcado, percebe uma unidade
assumindo diferentes corpos e formas, ecoando aqui e também que o fascismo não está do lado de fora.
e ali em sua poética. “Às vezes ficam latências de um Ele está do lado de dentro”, afirma ela, reivindicando
trabalho para o outro, algo que te incomoda e que sempre essa ênfase no medo como fenômeno social,
você só vai resolver anos depois. Talvez através de de necessidade de conectar qualquer mergulho pessoal
outra obra”, explica. com aspectos mais totalizantes. Os casos particulares
Dois dos trabalhos atualmente em exposição em também são iluminadores de como esse afeto funda-
Nova York dialogam diretamente com esse processo de mental é manipulado dentro do campo social, de como
coleção e reelaboração: a série À Espreita, um conjunto ele é usado calculadamente para a manutenção das
de desenhos feitos a partir de material coletado com forças autoritárias dentro da sociedade.
as crianças e retrabalhados como se fossem teatros Partindo de referências como Vladimir Safatle e de
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