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INSTITUIÇÕES PISTOLETTO NA SERRINHA
“A arte não pode ser separada da política. Arte
é política e a política tem que ser arte. A arte
tem a liberdade de ser livre e responsável”
mares, rios, praças, projetado e até impresso em uma que todos são autores e protagonistas independente de
nave espacial italiana. Agora, em grande dimensão, seu país, raça, política ou religião”. De qualquer forma
chega à paisagem bucólica e montanhosa do 19º Fes- Pistoletto executou a obra e testou um modelo de como
tival Arte Serrinha, idealizado por Fabio Delduque em exibir eventos performáticos em zona proibida. Havana
Bragança Paulista, que ocorre virtualmente até novem- é uma das embaixadas do Terzo Paradiso, assim como
bro, com o tema Arte e Ciência. A instalação reforça San Gimignano, Pequim e Quebec.
a ideia de Pistoletto de que a terra é a paisagem para O novo milênio alerta que o planeta está sob risco.
um novo nível de civilização. A curadoria é de Marcello Terzo Paradiso pratica duas questões recorrentes, a
Dantas e Catarina Duncan, e a instalação foi feita sob reciclagem e a sustentabilidade ambiental. A função
a orientação do Pistoletto. “Não pudemos envolver a reprodutora do projeto está nos subprodutos gerados em
população nem os estudantes por conta da Covid-19. seminários, debates, workshops, residências, festivais,
Mas agora o público poderá conhecer a obra feita com na defesa de um futuro no qual natureza e sociedade
rochas da região durante todo o ano, porque já integra coexistam de forma sustentável e garantam vida à terra.
o acervo permanente do festival.” Terzo Paradiso significa a passagem de um novo nível
de civilidade planetária.
Conversa em havana “O termo paraíso foi apropriado pela religião como
Há projetos que enfeitiçam e agem como substâncias doutrina, mas pertence à língua persa que significa
alucinógenas nos seus autores. Converso com Pistoletto jardim protegido. Naquela cultura Paradiso se refere à
no hotel Raquel, em Havana, em 2015, acompanhado agricultura, ao modo de produzir vegetais no deserto,
de sua mulher, Maria, um farol de sua vida. Tranquilo, construindo dois muros paralelos de pedras, com espaço
animado, ele dá sinais de que faria o Terzo Paradiso no suficiente entre eles para deter a umidade e permitir que
interior de São Paulo, então guardo a entrevista para esta floresça a plantação. Do ponto de vista da religião, se
ocasião. Na capital cubana seu trabalho ganha outros configura como o jardim que se pode alcançar depois da
contornos por trazer à tona um mecanismo de controle. morte”, explica. Mas os homens querem um jardim em
Ele acabava de fazer a performance sem a autorização sua vida terrestre, daí o artista criou um símbolo a partir
do governo, envolvendo dezenas de barcos de pesca, da trinâmica, elemento tomado do sinal matemático do
sob a coordenação do artista Kcho, da curadora Laura infinito. “Quero falar de nossa vida finita na sociedade,
Salas, ambos cubanos, e de Lorenzo Fiaschi, da galeria fazer nascer um terceiro espaço que representa o início
italiana Continua, com filial em Havana. e o fim de nossa existência. Afinal, tudo o que existe
Sem consultar a burocracia cubana ele convence tem uma duração e depois acaba”.
os pescadores a fazerem o signo do Terzo Paradiso Nessa perspectiva Terzo Paradiso é participativo,
flutuar na Baía de Havana. Sabendo da complexidade espacial e, sobretudo, político. “A arte não pode ser
da situação, pergunto como conseguiu intervir dentro separada da política. Arte é política e a política tem
de uma área da chamada “água costeira”, território que ser arte. A arte tem a liberdade de ser livre e res-
soberano do Estado, lei vigente em qualquer país. “Os ponsável”. A Cittadellarte, seu centro de arte em Biella,
pescadores devem ter o direito, como qualquer cida- onde nasceu, é a sede do Terzo Paradiso. Lá ele fez a
dão, de se manifestar. Terzo Paradiso é uma obra de exposição A Crítica não é Suficiente, uma espécie de
processo aberto, comunitário, de ação planetária em resposta aos artistas que criticam o status quo sem
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