Page 83 - ARTE!Brasileiros #48
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PAREDE COM INCISÕES À FONTANA, 2000
Consumir poéticas diversas, digerir e devolvê-las (Bahia), Recife (Pernambuco), Mariana (Minas
em uma obra autoral, faz parte do registro do real Gerais) e, posteriormente, em Portugal. Hal Fors-
e da fantasia que povoa a produção de Varejão e ter, em seu texto O artista como etnógrafo, fala
quase toda arte brasileira. O marco inaugural do sobre o protagonismo que a antropologia como
antropofagismo nacional pode ser o episódio em discurso exerce sobre a produção contemporânea,
que o padre Don Pero Sardinha é devorado pelos considerando como virada etnográfica o crescente
índios Caetés, em 1556, em um ritual canibal no interesse pelo Outro.
litoral do Nordeste. Isso ocorreu 372 anos antes A mostra de Varejão foi inserida pelo Mamam
do Manifesto Antropófago de Oswald de Andrade no seu projeto Exposição Individual de Artistas
ser lançado em 1928. Mulheres, sendo a terceira da série. A diretora
O interesse de Varejão pelo barroco vem do seu iní- Mabel Medeiros comenta que neste momento o
cio nas artes, quando a conheci em 1988, na galeria museu está reestudando o acervo com atenção
Thomas Cohn no Rio de Janeiro. Ela fazia sua pri- na produção feminina, ainda escassa na coleção.
meira individual aos 23 anos e dizia que as pinturas A exposição Adriana Varejão - por uma retórica
FOTOS: EDUARDO ORTEGA onde se surpreendeu com o barroco das igrejas. estados brasileiros fora do eixo Rio/São Paulo.
canibal deve seguir até o final do ano para outros
expostas eram resultado de uma viagem a Minas,
Essa inspiração que persiste até hoje, a levou a
estudar e pesquisar em Salvador e Cachoeirinha,
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