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EXPOSIÇÃO SÃO PAULO
testemunha seu grande apreço pela figura humana,
dedicando-se quase que exclusivamente aos retra-
tos e nus. Seu interesse não era pela fisionomia
mas pelo aspecto psicológico do retratado, o que
torna sua obra próxima das vertentes surrealistas
e, posteriormente, expressionistas. A mostra tam-
bém traz à tona experiências desenvolvidas por
ele nos anos 1970, utilizando tinta fosforescente
que brilha sob luz negra, reforçando seu interesse
pela pesquisa de novos meios e materiais. Carvalho
pintou e escreveu a vida inteira. E há, mesmo em
seus trabalhos mais revolucionários, muitas vezes
associados a um temperamento impulsivo, uma
base teórica e uma reflexão conceitual aguda,
lembra Kiki. Em diferentes momentos, e lançando
mão de estratégias distintas (arquitetura, teatro,
ação performática), o artista demonstra como se
antecipa, e de forma bastante precoce, ao estado
geral das artes no País. “Seus projetos de cunho
conceitual atestam seu extraordinário feito de
expandir o campo da arte para além de territórios
e formas conhecidos, ampliando assim a própria
definição daquilo que pode ser considerado arte”,
explica a curadora.
Tais momentos de grande potência criativa, muitos
deles efêmeros ou não realizados, estão repre-
sentados na mostra por meio de uma farta docu-
mentação. Carvalho foi, por exemplo, pioneiro e uma meia arrastão, para esconder as varizes.
dentre os primeiros modernistas da arquitetura Em diálogo com seu trabalho mais plástico, a
paulista e conquistou a admiração de vanguar- diversidade de experiências e o caráter muitas
distas como Mário e Oswald de Andrade com o vezes rebelde e performático de sua obra, difícil
projeto que apresentou em concurso realizado de ser traduzida em elementos expositivos por
para o Palácio do Governo de São Paulo em 1927, seu caráter efêmero e conceitual, torna-se mais
sob o sugestivo pseudônimo de Eficácia. Em 1931, concreto. As réplicas das máscaras usadas na
realiza Experiência n. 2, um ato contundente contra peça O Bailado do Deus Morto (originalmente
falsa moral católica, andando provocativamente escrita em 1931) e reencenada pelo Teatro Oficina
na contramão de uma procissão de Corpus Christi Uzyna Uzona em algumas ocasiões, inclusive no
com a cabeça coberta por uma boina, sendo quase vernissage da mostra, convivem por exemplo com
linchado pela população. Na Experiência n. 3, rea- um seleto conjunto de pinturas também dos anos
lizada quase trinta anos depois, atinge em cheio 1930, logo na abertura da exposição.
a moral patriarcal quando decide desfilar pelas É impressionante sua capacidade de subverter
ruas da cidade usando o New Look, traje que havia padrões e tentar estabelecer novas bases de
desenvolvido como roupa ideal para os homens, reflexão sobre o lugar do homem e da arte no
trocando o tradicional terno e gravata por uma mundo. Não tinha medo do combate. Desafiava
saia plissada, uma blusa de tecido leve, bufante, a sociedade, se colocava contra a hipocrisia
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