Page 80 - ARTE!Brasileiros #48
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EXPOSIÇÃO RECIFE
ADRIANA VAREJÃO
POR UMA RETÓRICA
CANIBAL
A EXPOSIÇÃO MARCA A PRIMEIRA INDIVIDUAL DA
ARTISTA NO NORDESTE, TERRITÓRIO DE FORTE HERANÇA
BARROCA E DO ESCRAVAGISMO COLONIAL
POR LEONOR AMARANTE
A EXPOSIÇÃO Adriana Varejão - por uma retórica canibal reacende
as indagações sobre o barroco e a colonização brasileira sob o
olhar aguçado da artista carioca. Exposta no Mamam - Museu
de Arte Moderna Aloísio Magalhães, no Recife, a mostra reúne
25 trabalhos produzidos entre 1992 e 2018 e faz emergir pontos
obscuros da história brasileira.
O interesse suscitado por estas obras, já conhecidas do eixo Rio/
São Paulo, ocorre agora da combinação acertada do recorte da
curadora Luisa Duarte, com obras pontuais inseridas no Nordeste,
território fortemente influenciado pelo barroco. Acima de tudo, local
privilegiado para pensar a colonização que fez uso forçado da mão
de obra escrava, na exploração massiva da cana de açúcar. Basta
lembrar que a Capitania de Pernambuco, em 1534, era a mais rica
e poderosa entre as 14 criadas pelos portugueses. Experimentar
esse confronto é fazer voltar à superfície impressões submersas
de um vasto passado ainda não digerido.
A exposição começa com o visitante sendo conduzido, natural-
mente, à sala de projeção onde Transbarroco, videoinstalação
de autoria e direção da artista e Adriano Pedrosa, é exibido em
grande tela. Cenas escolhidas de quatro filmes, com projeções
simultâneas, mostram fragmentos de igrejas do barroco brasileiro.
A excitação visual das imagens funciona como organismo vivo,
umas entrando nas outras, de tal maneira que o espectador não
permanece em estado contemplativo. A trilha sonora mistura per-
cussão do Oludum, acordes de órgão da Igreja de Mariana, toques FOTO JAIME ACIOLI
de sinos, ritmos de samba. Quase como um sussurro, ouve-se a
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