Page 79 - ARTE!Brasileiros #48
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NA PÁGINA ANTERIOR, EXPERIÊNCIA Nº3, 1956, APRESENTA O NEW
LOOK NA SEDE DOS DIÁRIOS ASSOCIADOS; À ESQUERDA, RETRATO
DE OSWALD DE ANDRADE E JULIETA BARBARA, 1939; ABAIXO,
DUAS MULHERES, 1973, TINTA ACRÍLICA FLUORESCENTE
moralista de uma sociedade extremamente reli- que lhe foi atribuída por Oswald de Andrade) e
giosa. “A vida inteira ele se interessou por dois participou ativamente de ações para aglutinação
campos do conhecimento a psicanálise, relativa- do meio artístico, como a fundação do Clube dos
mente nova naquele momento, e a etnologia”, Artistas Modernos (CAM).
explica Kiki. É pela confluência desses dois campos,
por um desejo permanente de tentar entender o BERLIM – Depois da Inglaterra, onde o artista
mundo a partir de comportamentos construídos viveu entre 1914 e 1922 mas onde seu trabalho
desde os tempos ancestrais, que a curadora inter- nunca havia sido exposto antes, será a vez do
preta sua produção bastante diversa. público alemão conhecer mais de perto sua obra,
Outro aspecto interessante da seleção é a ênfase cujo caráter disruptivo, experimental e crítico terá
que ela coloca na ampla rede social do artista, uma importância central na Bienal de Berlim do
que de certa forma contraria a ideia corrente de ano que vem. “Seu interesse pela psicologia das
que Carvalho era um homem solitário, marginali- massas (Freud) nos permite analisar ideias de
zado. De família abastada, com muitos contatos no pátria, fanatismo religioso, o medo, a organização
meio artístico e social de São Paulo, ele mantinha das multidões, linchamentos, fake news e corpos
estreitas relações com o círculo dos modernistas dissidentes no espaço público”, afirma Lisette
de primeira geração (o próprio título da mostra, Lagnado, uma das curadoras do evento. “Para
Antropófago Ideal, retoma uma alcunha elogiosa nós, Flávio é um anti-herói”, sintetiza ela.
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