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SÓ SE ME DORMIREM, 2018, PERFORMANCE DE KARLLA GIROTTO



                     grupos de uma vanguarda política. Foi construído um   passaram por aqui várias gerações, inclusive muitas
                     prédio de arquitetura modernista, tinha uma escola   pessoas que já morreram, mas a gente tem esse acervo,
                     experimental e um teatro brechtiano. Então a Casa nos   esse arquivo, que é o núcleo duro da Casa, que conta sua
                     condena a ousar. Ela nos pede para fazer diferente”.   história”, diz Marilia Loureiro, curadora e programadora
                     Diferente, inclusive, do que se fazia ali nos anos 1940 e   da instituição. O próximo passo é a restauração do TAIB,
                     1950, em um contexto radicalmente diferente. “Quando   hoje bastante degradado, em um planejamento que já
                     a Casa abriu havia dois ou três centros culturais na   está em estágio avançado.
                     cidade. Hoje só o bairro tem a Pinacoteca, a Oficina   O jornal Nossa Voz, símbolo da instituição, foi relan-
                     Cultural Oswald de Andrade, o Sesc Bom Retiro, a Sala   çado em 2014 e é publicado anualmente com textos
                     São Paulo, o Teatro Porto Seguro, o Museu de Arte   sobre temas atuais e colaborações de artistas e inte-
                     Sacra e o Teatro de Container. Então a gente ia fazer   lectuais. No último número, de 2018, a capa estampa o
                     mais um lugar com exposições, temporada de teatro e   Manifesto Herzog Vive!, publicado pelo grupo Judeus
                     shows? Não, quisemos fazer outra coisa”, explica. “Até   pela Democracia no período das eleições em reação à
                     porque esses espaços são fundamentais, mas acho   ascensão conservadora e à possibilidade da eleição de
                     que não dão conta de uma série de práticas artísticas   Bolsonaro. Na página seguinte, a transcrição da fala
                     contemporâneas. Porque eu acho que muitas vezes eles   feita pelo escritor israelense Amós Oz em junho de
                     separam um tanto a cultura das outras esferas da vida.”  2017, quando esteve no local, evidencia um pouco do
                     Hoje, com os coletivos e uma programação dividida entre   espírito – passado e presente – da Casa do Povo: “Eu
                     o que a Casa organiza e o que ela acolhe, o orçamento   realmente me sinto em casa. Aqui é o lugar certo para
                     anual passou dos R$ 60 mil, em 2011, para R$ 1,2 milhão,   começar uma revolução, ou, pelo menos, como disse
                     captados entre leis de incentivo, editais, contribuições
                                                                       minha amiga Lilia Schwarcz, o lugar certo para planejar
                   FOTOS: CAMILA SVENSON | ADMA MACENA  de arrecadação – como o show de Caetano Veloso em   do que executá-la”, brincou. Se não será o epicentro da
                                                                       a revolução. Porque é sempre mais agradável planejá-la
                     dos grupos e associados, locações e um evento anual
                                                                       revolução, a Casa é, retomando a afirmação de Seroussi,
                     2018. A biblioteca da instituição, após 40 anos fechada,
                                                                       um lugar para se ensaiar outros futuros possíveis. “E
                     foi reativada no último mês de maio, representando mais
                                                                       tudo que acontece aqui hoje confirma que os nossos
                     um grande passo para a Casa no sentido de retomar sua
                     história e, ao mesmo tempo, se abrir à sociedade. “Já
                                                                       desejos não eram loucura”, conclui o curador.
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