Page 50 - ARTE!Brasileiros #47
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INSTITUIÇÕES CASA DO POVO


































            A BIBLIOTECA DA CASA, REABERTA ESTE ANO E QUE INCLUI, ALÉM DE LIVROS E DOCUMENTOS, OS ACERVOS DOS COLETIVOS QUE HABITAM O ESPAÇO



             A HISTÓRIA RECENTE                                ativismo urbano. E hoje temos 25 grupos ou coletivos
             Foi mais ou menos essa a história contada à Seroussi   usando a Casa”. Dessa vez, não mais pessoas ligadas
             em 2011 – certamente com mais detalhes e emoção   à coletividade judaica, mas das mais variadas origens,
             – pelas mulheres que seguiam indo à Casa todas as   transformando a instituição em um espaço de encontro
             semanas cantar em ídiche no Coral Tradição. Foi neste   e convívio entre diferentes. “Se o judeu é o outro, por
             período que o curador, após anos de trabalho no Centro   excelência, uma casa judaica tem que ser aberta a todos
             da Cultura Judaica, começou a se aproximar da Casa,   os outros. Tem que ser um espaço da alteridade radical,
             situada em um bairro agora majoritariamente coreano   aberta à população trans, à população negra, indígena
             e boliviano e com seu edifício bastante degradado. “A   e aos imigrantes do bairro.”
             Casa não estava fechada. Essas mulheres mantiveram,   A partir de um questionamento sobre o que deveria ser
             heroicamente, ela viva, mas funcionando na medida do   um centro cultural do século 21, e mais especificamente
             possível”, conta Seroussi, referindo-se a figuras como   naquele espaço, três grandes eixos de trabalho foram
             Hugueta Sendacz, hoje aos 92 anos e ainda maestrina do   definidos. O primeiro, gedenk (“lembre-se”, em ídiche),
             coral. Na mesma época, em decorrência do lançamento   orienta a atuação da casa como espaço de memória viva,
             do livro Vanguarda Pedagógica (2008) e de uma mobili-  que conta a história de resistência dos grupos que por
             zação através das redes sociais, um grupo de ex-alunos   ali passaram, mas procura trazer essa história para as
             do Scholem também passou a se envolver com a Casa   práticas do presente e ideias de futuro. O segundo eixo,
             e a debater o futuro do espaço.                   tsukunft (“futuro”) ressalta o papel experimental da casa
             Foi a partir de 2012, com um novo conselho – que já   e o desejo de fazer dela um espaço para se pensar novas
             incluía Seroussi – e uma equipe embrionária que as coisas   práticas artísticas e multidisciplinares. O terceiro eixo,
             começaram a mudar. “Não tinha grana nem funcionários,   farain (“associação”), se refere a como os dois primeiros
             mas eu lembro de pensar: com esse lugar, essa história,   eixos poderiam ser trabalhados, ou seja, através da ação
             essa arquitetura e sem pagar aluguel, ou eu consigo fazer   de coletivos, movimentos autônomos e associações de
             as coisas acontecerem ou eu troco de profissão”, brinca.   bairro que passaram a habitar a Casa, convivendo entre
             “E a gente resolveu fazer do mesmo jeito que foi feito   si e utilizando os espaços de modo flexível.
             lá em 1953. Ou seja, colocar grupos para usar o espaço.   Os três eixos se relacionam diretamente com uma ques-
             Veio um grupo de moda, um de design gráfico, um de   tão incontornável, segundo Seroussi: “Aqui estavam


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