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INSTITUIÇÕES CASA DO POVO
A BIBLIOTECA DA CASA, REABERTA ESTE ANO E QUE INCLUI, ALÉM DE LIVROS E DOCUMENTOS, OS ACERVOS DOS COLETIVOS QUE HABITAM O ESPAÇO
A HISTÓRIA RECENTE ativismo urbano. E hoje temos 25 grupos ou coletivos
Foi mais ou menos essa a história contada à Seroussi usando a Casa”. Dessa vez, não mais pessoas ligadas
em 2011 – certamente com mais detalhes e emoção à coletividade judaica, mas das mais variadas origens,
– pelas mulheres que seguiam indo à Casa todas as transformando a instituição em um espaço de encontro
semanas cantar em ídiche no Coral Tradição. Foi neste e convívio entre diferentes. “Se o judeu é o outro, por
período que o curador, após anos de trabalho no Centro excelência, uma casa judaica tem que ser aberta a todos
da Cultura Judaica, começou a se aproximar da Casa, os outros. Tem que ser um espaço da alteridade radical,
situada em um bairro agora majoritariamente coreano aberta à população trans, à população negra, indígena
e boliviano e com seu edifício bastante degradado. “A e aos imigrantes do bairro.”
Casa não estava fechada. Essas mulheres mantiveram, A partir de um questionamento sobre o que deveria ser
heroicamente, ela viva, mas funcionando na medida do um centro cultural do século 21, e mais especificamente
possível”, conta Seroussi, referindo-se a figuras como naquele espaço, três grandes eixos de trabalho foram
Hugueta Sendacz, hoje aos 92 anos e ainda maestrina do definidos. O primeiro, gedenk (“lembre-se”, em ídiche),
coral. Na mesma época, em decorrência do lançamento orienta a atuação da casa como espaço de memória viva,
do livro Vanguarda Pedagógica (2008) e de uma mobili- que conta a história de resistência dos grupos que por
zação através das redes sociais, um grupo de ex-alunos ali passaram, mas procura trazer essa história para as
do Scholem também passou a se envolver com a Casa práticas do presente e ideias de futuro. O segundo eixo,
e a debater o futuro do espaço. tsukunft (“futuro”) ressalta o papel experimental da casa
Foi a partir de 2012, com um novo conselho – que já e o desejo de fazer dela um espaço para se pensar novas
incluía Seroussi – e uma equipe embrionária que as coisas práticas artísticas e multidisciplinares. O terceiro eixo,
começaram a mudar. “Não tinha grana nem funcionários, farain (“associação”), se refere a como os dois primeiros
mas eu lembro de pensar: com esse lugar, essa história, eixos poderiam ser trabalhados, ou seja, através da ação
essa arquitetura e sem pagar aluguel, ou eu consigo fazer de coletivos, movimentos autônomos e associações de
as coisas acontecerem ou eu troco de profissão”, brinca. bairro que passaram a habitar a Casa, convivendo entre
“E a gente resolveu fazer do mesmo jeito que foi feito si e utilizando os espaços de modo flexível.
lá em 1953. Ou seja, colocar grupos para usar o espaço. Os três eixos se relacionam diretamente com uma ques-
Veio um grupo de moda, um de design gráfico, um de tão incontornável, segundo Seroussi: “Aqui estavam
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