Page 54 - ARTE!Brasileiros #47
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EXPOSIÇÃO SÃO PAULO
ACIMA, ERNESTO NETO, O SAGRADO É AMOR, 2017. NA PÁGINA SEGUINTE, A OBRA FLYING GROUP NAVE, 1999.
E CURA BRA CURA TÉ, DE 2019, NA PÁGINA ANTERIOR
intrinsicamente relacional de todo ser, humano e contaminam o ambiente com odores, que propiciam
não humano, o que Lagrou define como “estética o encontro, que tocam, acariciam e envolvem.
relacional ameríndia”. O plasticismo que se vê nas obras dos anos dos
“Chegou a hora de ouvir pajés, babalorixás, yalo- anos 1980 à primeira década do século 21 é des-
rixas”, prega Neto, e a programação das ativações lumbrante: nas formas, nos materiais, nos volumes
abrange essas vozes silenciadas na história do Bra- e nas dimensões. Há uma estruturação orgânica
sil, mas que nas últimas décadas vem conquistando em sua linguagem confortável a todos sentidos,
espaço. Estarem agora na Pinacoteca é não só uma o que é até raro em arte contemporânea. Mas
proposição do artista, mas consequência da luta a potência máxima chega agora nesse “projeto
que esses povos vêm empreitando. indigenista”, politizando de vez o que era discreto,
Sopro, no entanto, vai muito além do octógono e, e transformando Ernesto Neto em uma espécie
nos diversos espaços onde ela ocorre, revela-se de xamã nos tempos da cólera.
como faz sentido na carreira de Neto a poética
que ele defende agora. Ernesto Neto: Sopro
Essa sintonia com uma cosmogonia indigenista, 30 de março a 15 de julho de 2019
onde humano e não humano são vistos como parte Pinacoteca de São Paulo
de um todo, afinal é central em suas diversas ins- Praça da Luz 2, São Paulo, SP FOTOS: LEVI FANAN
pinacoteca.org.br
talações, que pedem a presença do outro, que
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