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EXPOSIÇÃO SÃO PAULO
DIFERENTES ASPECTOS DA VIDA
E OBRA DE PAUL KLEE
MOSTRA NO CENTRO CULTURAL BANCO DO BRASIL EM SÃO PAULO NOS APROXIMA DA GENIALIDADE DO ARTISTA SUÍÇO
POR MARIA HIRSZMAN
TENTACULAR, A EXPOSIÇÃO DE PAULO KLEE em Artes de Munique em 1898) e a posterior libertação de
cartaz no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB) de uma arte que apenas reproduz o visível; os interessantes
São Paulo apresenta um retrato diversificado do artista, estudos que realiza na primeira década do século XX que
permitindo a expressão de toda sua genialidade. Eviden- recebem o título de “Invenções”, nos quais cria figuras
temente, seu protagonismo na arte moderna e seu estilo estranhas, precocemente surreais, com certa ironia e
absolutamente pessoal – em diálogo com várias das acidez; a importância de viagens como as que fez para
correntes hegemônicas da primeira metade do século a Itália (1901), França (1912) e sobretudo para a Tunísia
XX – estão na base da mostra, que traz mais de 120 (1914); a presença da família (nos retratos e nos fantoches
trabalhos. No entanto, a maior qualidade de “Equilí- que fazia para o filho); a descoberta da cor; e a intensa
brio Instável” reside na estratégia de mostrar não uma relação com outras formas de expressão artística como
trajetória única e coerente do pintor, mas sim iluminar a música e o teatro.
diferentes aspectos de sua vida e obra, compondo um Os movimentos são complementares, combinando fatos
panorama – evidentemente não exaustivo – de múltiplas biográficos marcantes com seus principais veios de pes-
questões caras a Klee e a sua época. quisa e estudo, como os trabalhos de viés mais expressio-
Assim, o que poderia ser uma retrospectiva tradicional que nista, desenvolvido nos anos 1910 (quando participou do
referenda a narrativa oficial sobre a trajetória de um artista grupo “Der Blaue Reiter”, com artistas como Kandinsky e
profundamente coerente e prolífico, acaba se espraiando Macke) ou os persistentes desenhos de modelos geomé-
por pesquisas, temas, técnicas e momentos distintos. Essa tricos que realiza nos vários anos em que foi professor
abordagem por capítulos, que respeitam uma cronologia da Bauhaus, período em que se dedica a compreender e
tênue, também responde à difícil arquitetura do espaço, sintetizar as relações formais da representação plástica.
fragmentado em múltiplas salas desconectadas uma da Ora o visitante é colocado em contato com trabalhos que
outra. Com isso, o visitante acompanha o artista desde a marcam sua relação com o mundo à volta, ora tem diante
infância, num conjunto de desenhos singelos, represen- de si o resultado de um esforço constante para dominar e
tando, por exemplo, cenas familiares de natal. A presença criar uma nova arte. Disciplinado ao extremo, Klee tinha
de tais peças na exposição se explica tanto pela importância por norma não passar nem um dia sem traçar uma linha.
do Zentrum Paul Klee (instituição suíça organizadora da Apesar da importância normalmente atribuída à contri-
mostra e depositária de sua obra) para a preservação de buição do artista para o desenvolvimento da abstração na
sua história, como pelo fato curioso de o próprio pintor ter arte moderna, poucas foram as oportunidades do público
incluído esses trabalhos, que a seu critério já apresentariam brasileiro ver de perto sua produção, como mostra Roberta
“autonomia produtiva”, no exaustivo registro que manteve Saraiva Coutinho em estudo publicado no catálogo de
a vida inteira de sua produção. “Equilíbrio Instável”. Tal ausência é ainda mais estranha
O visitante vai pouco a pouco acompanhando seu cami- se levarmos em consideração a grande influência – formal
nhar, presencia por meio de obras selecionadas seu desejo ou teórica – de suas pesquisas no modernismo local, num
de aperfeiçoar-se no estudo acadêmico do corpo humano diálogo a distância que o Zentrum Paul Klee pretende
(que já havia lhe custado uma vaga na Academia de Belas mapear melhor e apresentar futuramente ao público suíço.
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