Page 66 - ARTE!Brasileiros #46
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EXPOSIÇÃO SÃO PAULO
O RIGOR AFETIVO
DE FARNESE,
NA ÍNTEGRA
EXPOSIÇÃO REVISITA A OBRA GRÁFICA E
TRIDIMENSIONAL DO ARTISTA MINEIRO, TENTANDO
ENTENDER SUA GÊNESE E REPOSICIONANDO SUA
IMPORTÂNCIA NA HISTÓRIA DA ARTE BRASILEIRA
POR MARIA HIRSZMAN
NÃO HÁ UM PONTO FIXO a partir do qual se
possa olhar para a obra de Farnese de Andrade.
Seu trabalho, revisto agora em exposição na Gale-
ria Almeida e Dale, não apenas contém uma potên-
cia plástica e simbólica única, como torna a história
da arte brasileira mais complexa e interessante.
Servindo de contraponto à narrativa oficial, que
varre para debaixo do tapete qualquer expressão
que escape da ideia de uma vocação abstrata no
Brasil de meados do século XX, a arte de Farnese
lida com interditos, fantasmas e arquétipos e traz
à tona uma subjetividade incômoda. Como afirma
Denise Mattar, responsável pela seleção dos quase
100 peças presentes na mostra, seus trabalhos
“remexem nas entranhas do inconsciente, e por
isso fascinam, encantam, assustam e incomodam”.
Densa, a exposição abarca uma ampla gama de
pesquisas e momentos da produção do artista.
Procura iluminar a importância de sua produção
gráfica, pouco vista nas últimas décadas mas
fundamental em sua trajetória. Durante boa parte
de sua carreira, Farnese foi mais valorizado como
ilustrador e gravurista e só a partir dos anos 1990,
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