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EXPOSIÇÃO SÃO PAULO
A mostra conta majoritariamente com desenhos (80% de
sua produção é composta de trabalhos sobre papel), entre os
quais destacam-se um impactante grupo de imagens, esbo-
çadas de forma rápida, no calor da hora, nas quais comenta
com acidez os trágicos acontecimentos que antecederam a
Segunda Guerra Mundial. Essas quase caricaturas, em giz sobre
cartão, mostram cenas como a figura repulsiva do ditador ou
os horrores vividos pelos emigrantes, pelos perseguidos pelo
regime de Hitler e que fazem parte de um conjunto de cerca
de 250 ilustrações. O próprio Klee foi vitima do nazismo. Além
de ter obras de sua autoria na exposição de arte degenerada
organizada pelo Reich em 1937, foi acusado de ser judeu, teve
a casa revistada, perdeu o emprego e foi forçado a refugiar-se
na Suíça, seu país de nascimento, ainda em 1933.
Outro grupo de trabalhos que merece destaque é o conjunto
de desenhos de anjos, ao mesmo tempo humanos e sobrena-
turais, decaídos e belos. Lá está por exemplo “Anjo Esquecido”
(1939), cuja delicadeza e recato – com as mãos e asas unidas
– é comovente. Também está presente na seleção, que depois
de São Paulo segue para as unidades da instituição no Rio
de Janeiro e em Belo Horizonte, o anjo mais célebre de Klee,
“Angelus Novus”, de 1920, que entra para a história como
imagem emblemática das teses sobre o conceito de história
ACIMA, PAUL KLEE, WOMAN IN TRADITIONAL COSTUME [MULHER COM ROUPA de Walter Benjamin. Adquirida por Benjamin em 1921, a obra
TÍPICA], 1940, COLA COLORIDA SOBRE PAPEL SOBRE CARTÃO. ABAIXO, PAUL
KLEE, HANGING DOWN [PENDURADO PARA BAIXO], 1939, COLA COLORIDA pertence ao museu de Israel e raramente viaja, mas o Zentrum
E LÁPIS SOBRE PAPEL, DOAÇÃO DE LIVIA KLEE
Paul Klee disponibilizou para a mostra brasileira uma cópia fiel
e certificada dessa imagem que, segundo o filósofo alemão,
funciona como uma alegoria da história, que vê com terror a
destruição do passado enquanto é impelido para o futuro por
essa tempestade “que chamamos de progresso”.
A “confluência entre a ligação entre uma visão de mundo e o
puro exercício plástico”, como definiu o próprio artista, encon-
tra sua expressão sintética em trabalhos como “Riscado da
Lista”. A tela, pintada em 1933 traz a imagem de um homem,
muito possivelmente um autorretrato, de um homem perfilado,
de rosto triste, com uma cruz sobre a cabeça e o peso do mundo
sobre os ombros. “Klee sempre tentou unir relações criativas,
de conteúdo e forma, com questões existenciais, ideológicas,
éticas”, sintetiza a curadora Fabienne Eggelhöfer, reiterando
a ideia de equilíbrio expressa no título.
Paul Klee: Equilíbrio Instável
Curadoria de Fabienne Eggelhöfer
Até 29 de abril
Centro Cultural Banco do Brasil São Paulo:
Rua Álvares Penteado, 112 - Centro, São Paulo - SP
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