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ROSANA PAULINO, ASSENTAMENTO, 2012, LITOGRAFIA A CORES SOBRE PAPEL, COLEÇÃO PARTICULAR
Olhando em retrospecto mais de duas décadas de percepção reforça, mas não antecede, o convite que fizemos
produção da artista, é especialmente tocante notar a Paulino para que apresente, na 21ª Bienal de Arte Contem-
a delicadeza com que expõe questões e situações porânea Sesc_Videobrasil, uma obra inédita, que está sendo
extremas, como a violência imposta à mulher, sobre- comissionada pelo evento. A Bienal acontece a partir de outubro
tudo negra, o mal-dissimulado racismo brasileiro e a em São Paulo e investiga, por meio de um conjunto expressivo
ausência e a invisibilidade social do negro, frequen- de trabalhos, como poéticas oriundas do Sul se relacionam com
temente reduzido à condição de objeto de estudo a ideia de comunidades novas, criadas por princípios distintos
das ciências naturais por nossa iconografia histórica daqueles que fundaram os Estados nacionais. Como as que se
– um repertório do qual Rosana, não à toa, se utiliza aproximam de um caráter familiar ou tribal, expressando seus
amplamente. Alguns entre muitos exemplos são o afetos em experiências de cunho doméstico ou memorialístico.
traço delicado e fluido com que ela reconecta à terra Partindo de questões recorrentes em seu trabalho, relacionadas
o corpo feminino negro, fragmentado e desenraizado à memória e à ancestralidade, Rosana Paulino dialoga com esse
pela escravidão, em Assentamentos; e a leveza das universo e se aventura em uma nova linguagem. A exposição
pequenas esculturas de cerâmica reunidas na instala- apresentada na Pinacoteca irá para o MAR - Museu de Arte
ção Tecelãs (2009), que evoca com grande pungência do Rio em 13 de abril e ficará em cartaz até o final de agosto.
a dor da dupla submissão de ser mulher e negra.
Ao fazer jus a uma produção madura e de potên- Rosana Paulino: a costura da memória
cia rara, a exposição na Pinacoteca revela Rosana Curadoria de Valéria Piccoli e Pedro Nery
Paulino como uma das artistas mais importantes A partir de 13 de abril
Museu de Arte do Rio: Praça Mauá, 5 – Centro, Rio de Janeiro – RJ
em ação na cena contemporânea brasileira. Essa
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