Page 48 - ARTE!Brasileiros #46
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REPORTAGEM TENDÊNCIAS






             NÃO QUEIME DEPOIS DE LER





             ENTUSIASTA DA ARTE CORREIO, GUSTAVO NÓBREGA, DIRETOR
             DA GALERIA SUPERFÍCIE, QUER FOMENTAR O INTERESSE
             POR PEÇAS DO MOVIMENTO NO COLECIONISMO


             POR JAMYLE RKAIN


             COM UMA EXPLOSÃO SILENCIOSA a partir dos anos
             50, a arte correio tem seu pioneirismo em Ray Johnson e
             a New York Correspondance School, mas também parte de
             manifestções como o Fluxus, de Maciunas. Como o nome
             entrega, é um movimento no qual a arte cabe dentro de
             um envelope ou pacote que possa ser transportado via
             correio. As possibilidades são muitas e não se limitam
             apenas a cartas ou cartões postais. No Brasil, o movi-
             mento começou a ganhar corpo a partir dos anos 60.
             Também conhecido como arte postal — termo que caiu
             em desuso por reduzi-lo apenas a uma das coisas uti-
             lizadas, o cartão postal —, o movimento consiste em
             uma troca de informações, criação de redes e, naquela
             época, uma nova mídia para a arte. Não se pode deixar
             enganar achando que apenas obras feitas em papel eram
             enviadas por correio, mas também objetos, fitas K7s e
             vídeos, alguns trocavam inclusive pedaços de tecido
             das próprias roupas. Os artistas buscavam formas de
             explorar todos os cinco sentidos no que era enviado
             para os colegas.
             Esse movimento “não é mais um “ismo”, e sim a saída
             mais viável que existia para a arte nos últimos anos e
             as razões eram simples: antiburguesia, anticomercial,
             anti-sistema, etc”, escreveu o artista Paulo Bruscky em
             texto publicado em 1976 no Jornal Letreiro, da Universi-
             dade Federal do Rio Grande do Norte. Para ele, um dos
             expoentes nacionais da arte correio, o movimento foi
             essencial no que diz respeito a quebrar barreiras, seja
             por atravessar fronteiras físicas ao interligar artistas
             de todos os cantos do planeta ou por não haver “nem
             julgamentos nem premiações aos trabalhos”.
             Com um clima marginal, já que apenas os que recebem
             e repassam têm contato com os trabalhos, a arte cor-
             reio ficou fechada a seus agentes, criando uma fluidez
             intimista. No Brasil, o movimento ganhou uma grande


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