Page 74 - ARTE!Brasileiros #40
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INSTITUIÇÃO IMS

                                                               acesso mais restrito com a divulgação de um vasto e
                                                               mais desconhecido material de arquivo, de caráter mais
                                                               histórico. “Nossa ideia é oferecer uma programação
                                                               que talvez o público não espere”, afirma o cineasta
                                                               Kleber Mendonça Filho, consultor responsável por essa
                                                               programação.
                                                               A presença de The Clock, que sincroniza em tempo real
                                                               diferentes imagens de relógios capturadas no cinema,
                                                               serve de gancho para uma ação ousada: a decisão de
                                                               manter, um dia por semana, o instituto aberto 24 horas.
                                                               Mais do que permitir que o trabalho seja apreciado na
                                                               íntegra e transgredir os limites rígidos de funcionamento,
                                                               esse horário alternativo tem por objetivo reafirmar o
            FOTO QUE INTEGRA A SÉRIE THE AMERICANS (1955) DE ROBERT FRANK  vínculo entre o novo espaço e seu público, dando corpo a
                                                               um centro de cultura plenamente integrado com a cena
                                                               urbana, em suas mais diferentes feições, do período
                                                               comercial à madrugada.
             quer perder esse rigor”, ressalta Lorenzo Mammì, cura-  Esse entrecruzamento com a cena urbana e seus habi-
             dor geral de programações e eventos do IMS.       tantes se reflete em outros aspectos do IMS paulistano,
             A agenda preparada para a inauguração do prédio   com efeitos tanto na programação de longo prazo quanto
             já sinaliza o caráter plural que a instituição pretende   na própria arquitetura do espaço. O projeto do escritório
             adotar. A antológica série The Americans, feita em 1955   Andrade Morettin se impõe, com sua roupagem leve, de
             por Robert Frank (além da exposição de fotografias,   vidro, na paisagem da Avenida, como é possível constatar
             haverá também um curso sobre a geração beatnik e   nas fotos feitas ao longo de todo o período de construção
             uma mostra de cinema), ocupará uma das galerias. O   por Michael Wesely, que também estarão em exibição.
             segundo espaço abrigará Corpo a Corpo, uma exposi-  E busca integrar-se a este espaço recriando, no quarto
             ção coletiva de fotografia contemporânea brasileira,   andar do novo prédio, um espaço de convivência que
             que reúne trabalhos de Bárbara Wagner, Jonathas de   funcionará como uma espécie de praça, com a dupla
             Andrade, Sofia Borges, Letícia Ramos, Garapa e Mídia   função de acesso e espaço de convívio, enquanto o
             Ninja. São imagens recentes, posteriores aos protestos   andar térreo é pensado como uma continuidade da rua,
             de 2013, que parecem ter inaugurado um novo momento   dialogando também com outros dois prédios icônicos
             político e social no país, e que lidam com a corporifica-  da Paulista: o Masp e o Conjunto Nacional.
             ção da violência, do confronto, das tensões de classe   Essa integração também se encontra na escolha do
             e de poder. A Galeria 1 receberá a videoinstalação The   tema para a primeira de uma série de mostras de
             Clock, de Christian Marclay – agraciada com o Leão de   longo prazo (um ano de duração), aos cuidados de
             Ouro da Bienal de Veneza de 2011.                 curadores convidados, que ocupará o último andar do
             A tendência – como se pode notar –  é privilegiar as   edifício, num sistema de projeção imersiva de imagens.
             imagens técnicas, produzidas com aparelhos. “A foto   A seleção inaugural, a cargo de Guilherme Wisnik, se
             renova-se em sua banalidade digital. Ela não acabou, o   debruça exatamente sobre a iconografia da cidade de
             que torna ainda mais exigente o nosso papel de media-  São Paulo. São três séries, construídas basicamente
             dor”, explica Pinheiro. O cinema também terá seu lugar   a partir de imagens pertencentes a coleção do IMS,
             de destaque, ocupando, com uma intensa programação,   intituladas Construção/Demolição, Letreiros e Perso-
             o auditório multimídia com 150 lugares (que tem condi-  nagens. Com cerca de 8 minutos, cada série propõe
             ções de projetar tanto filmes analógicos como digitais,   um passeio ao mesmo tempo histórico e poético por
             bem como preparo acústico para eventos musicais).   aspectos importantes do caráter urbano de São Paulo,
             O objetivo é trabalhar o caráter diverso da produção   traduzindo na prática essa “ideia da natureza de São
             audiovisual, complementando a já vasta programação   Paulo como lugar de transformação permanente,
             cinematográfica existente na Paulista e combinando o   de lugar de construção e também de destruição”,
             novo e o antigo, uma seleção de produções recentes de   explica Wisnik.


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