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INSTITUIÇÃO IMS
acesso mais restrito com a divulgação de um vasto e
mais desconhecido material de arquivo, de caráter mais
histórico. “Nossa ideia é oferecer uma programação
que talvez o público não espere”, afirma o cineasta
Kleber Mendonça Filho, consultor responsável por essa
programação.
A presença de The Clock, que sincroniza em tempo real
diferentes imagens de relógios capturadas no cinema,
serve de gancho para uma ação ousada: a decisão de
manter, um dia por semana, o instituto aberto 24 horas.
Mais do que permitir que o trabalho seja apreciado na
íntegra e transgredir os limites rígidos de funcionamento,
esse horário alternativo tem por objetivo reafirmar o
FOTO QUE INTEGRA A SÉRIE THE AMERICANS (1955) DE ROBERT FRANK vínculo entre o novo espaço e seu público, dando corpo a
um centro de cultura plenamente integrado com a cena
urbana, em suas mais diferentes feições, do período
comercial à madrugada.
quer perder esse rigor”, ressalta Lorenzo Mammì, cura- Esse entrecruzamento com a cena urbana e seus habi-
dor geral de programações e eventos do IMS. tantes se reflete em outros aspectos do IMS paulistano,
A agenda preparada para a inauguração do prédio com efeitos tanto na programação de longo prazo quanto
já sinaliza o caráter plural que a instituição pretende na própria arquitetura do espaço. O projeto do escritório
adotar. A antológica série The Americans, feita em 1955 Andrade Morettin se impõe, com sua roupagem leve, de
por Robert Frank (além da exposição de fotografias, vidro, na paisagem da Avenida, como é possível constatar
haverá também um curso sobre a geração beatnik e nas fotos feitas ao longo de todo o período de construção
uma mostra de cinema), ocupará uma das galerias. O por Michael Wesely, que também estarão em exibição.
segundo espaço abrigará Corpo a Corpo, uma exposi- E busca integrar-se a este espaço recriando, no quarto
ção coletiva de fotografia contemporânea brasileira, andar do novo prédio, um espaço de convivência que
que reúne trabalhos de Bárbara Wagner, Jonathas de funcionará como uma espécie de praça, com a dupla
Andrade, Sofia Borges, Letícia Ramos, Garapa e Mídia função de acesso e espaço de convívio, enquanto o
Ninja. São imagens recentes, posteriores aos protestos andar térreo é pensado como uma continuidade da rua,
de 2013, que parecem ter inaugurado um novo momento dialogando também com outros dois prédios icônicos
político e social no país, e que lidam com a corporifica- da Paulista: o Masp e o Conjunto Nacional.
ção da violência, do confronto, das tensões de classe Essa integração também se encontra na escolha do
e de poder. A Galeria 1 receberá a videoinstalação The tema para a primeira de uma série de mostras de
Clock, de Christian Marclay – agraciada com o Leão de longo prazo (um ano de duração), aos cuidados de
Ouro da Bienal de Veneza de 2011. curadores convidados, que ocupará o último andar do
A tendência – como se pode notar – é privilegiar as edifício, num sistema de projeção imersiva de imagens.
imagens técnicas, produzidas com aparelhos. “A foto A seleção inaugural, a cargo de Guilherme Wisnik, se
renova-se em sua banalidade digital. Ela não acabou, o debruça exatamente sobre a iconografia da cidade de
que torna ainda mais exigente o nosso papel de media- São Paulo. São três séries, construídas basicamente
dor”, explica Pinheiro. O cinema também terá seu lugar a partir de imagens pertencentes a coleção do IMS,
de destaque, ocupando, com uma intensa programação, intituladas Construção/Demolição, Letreiros e Perso-
o auditório multimídia com 150 lugares (que tem condi- nagens. Com cerca de 8 minutos, cada série propõe
ções de projetar tanto filmes analógicos como digitais, um passeio ao mesmo tempo histórico e poético por
bem como preparo acústico para eventos musicais). aspectos importantes do caráter urbano de São Paulo,
O objetivo é trabalhar o caráter diverso da produção traduzindo na prática essa “ideia da natureza de São
audiovisual, complementando a já vasta programação Paulo como lugar de transformação permanente,
cinematográfica existente na Paulista e combinando o de lugar de construção e também de destruição”,
novo e o antigo, uma seleção de produções recentes de explica Wisnik.
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