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INTERNACIONAL MADRI





























            VISTA DA EXPOSIÇÃO NO MUSEU REINA SOFIA





             DITADURA E EXÍLIO                                 como boa parte de sua trajetória política militante, são
             À crença na modernidade se seguiu um período mais   contados na mostra em um mural de fotos e textos.
             obscuro e desesperançoso para Pedrosa – e para o Brasil   Estão apresentados ali desde as revistas e periódicos
             – com o golpe militar de 1964 e a instauração da dita-  de esquerda que fundou ou dirigiu – Revista Proletária
             dura no país. Em 1970, quando sua prisão preventiva foi   (1926), A Luta de Classe (1930), O Homem Livre (1932)
             decretada em decorrência da intensa militância política,   e Vanguarda Socialista (1945) – até sua participação na
             Pedrosa partiu paro o exílio no Chile, então governado   fundação do Partido dos Trabalhadores em 1980, um ano
             pelo socialista Salvador Allende. Foi neste contexto que   antes de sua morte. Um dos últimos registros do crítico
             38 artistas, entre eles Picasso, Calder, Max Bill, Edouard   em vida, uma foto com Lula, está exposta na mostra.
             Pignon e Henry Moore, publicaram uma carta aberta   “Nós começamos a exposição com uma cronologia clás-
             em repúdio à perseguição sofrida por Pedrosa, respon-  sica, porque se você não entende a vida do Mário difi-
             sabilizando o presidente Médici por qualquer dano ao   cilmente vai entender o pensamento dele. Ele nasce em
             bem-estar físico e psicológico do crítico.        1900, vive o século 20, mora em vários lugares, tem uma
             Referente a este período, a última sala da mostra expõe   vida política intensa. E isso é difícil representar em uma
             obras de Oiticica, Rubens Gerchman, Antonio Dias e   exposição sem textos”, explica Barreiro. “E nós tenta-
             Darcílio Lima produzidas a partir dos anos 1960; tra-  mos apresentá-lo a um público que não o conhece”, diz
             balhos que colocam em cheque a utopia moderna, seja   o curador, ao mesmo tempo que celebra a visibilidade
             ao criticar a sociedade de consumo – com inspiração na   crescente que a arte latino-americana ganha na Europa.
             pop art – ou ao se aproximar de um universo de sexo,   “Estamos em um momento em que não é mais preciso
             drogas e psicodelia.                              fazer uma exposição como ‘Um século de arte brasileira’,
             Já no Chile, Pedrosa foi dos mais ativos participantes   essas coisas bem gerais que eram comuns até os anos
             da criação do Museo de la Solidariedad, instituição que   1990. Hoje podemos entrar em um viés mais específico,
             reuniu obras doadas por artistas em apoio ao governo   falar de uma figura tão particular e interessante como
             da Unidade Popular de Allende. Trabalhos de Joan   Mário Pedrosa”, conclui.
             Miró, Frans Krajcberg, Antoni Tàpies, Lygia Clark, Sérgio
             Camargo e muitos outros chegaram de vários cantos do   Mario Pedrosa: De la Naturaleza Afectiva de la Forma
             mundo, no que Pedrosa chamou de uma “demonstração   Até 16/10
             de generosidade suprapartidária e supranacional”.   Museu Nacional Centro de Arte Reina Sofia
                                                               Calle de Santa Isabel, 52, 28012 Madrid, Espanha
             O envolvimento do crítico com o museu chileno, assim


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