Page 42 - ARTE!Brasileiros #40
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INTERNACIONAL MADRI






































             experimental e livre, estruturada a partir da fluidez dos   período, explicitando também seu profundo interesse
             vasos comunicantes entre arte e política, conectadas   não só pela produção brasileira, mas pelo que havia
             para um porvir plural”, afirma.                   de vanguardista em outros cantos do mundo. Em Klee,
                                                               o crítico percebia uma obra de reconciliação entre o
             ARTE VIRGEM E BIENAIS                             espírito centro-europeu e o oriental. Sobre o italiano
             Da sensibilidade e olhar livre do crítico decorreram tam-  Morandi (1890-1964), por sua vez, considerou que foi
             bém seu interesse na arte produzida pelos chamados   o artista mais político de sua geração, pela recusa em
             “doentes mentais”, a partir do momento em que entrou em   participar da arte fascista e de se tornar uma arma da
             contato com a doutora Nise da Silveira e com os pacien-  propaganda. “Nenhum de seus contemporâneos rom-
             tes do hospital psiquiátrico de Engenho de Dentro (RJ).   peu com maior bravura do que ele com toda a tradição
             Pedrosa ficou fascinado com aquilo que denominou a “arte   pictórica de seu país”, escreveu.
             virgem” produzida por nomes como Raphael Domingues
             e Emygdio De Barros (presentes na mostra de Madri) e   PLURALIDADE DE LINGUAGENS
             ajudou a organizar exposições com seus trabalhos em   Os espaços seguintes da mostra no Museu Reina Sofía
             importante museus como o MAM-RJ. “Ele defendeu, frente   aprofundam outros temas caros ao pensamento de
             à críticas opostas, o trabalho dos internos como parte   Pedrosa ao longo das décadas. O ilustrador e cartunista
             integrante da produção artística nacional”, conta Sommer.         Millôr Fernandes ganha destaque com uma sala própria,
             Ainda nos anos 1950, o crítico teve importante papel na   revelando um interesse de Pedrosa em produções por
             organização e curadoria das Bienais de São Paulo, espe-  vezes consideradas de segunda linha no mundo da arte.
             cialmente na segunda e terceira edições (1953 e 1955).   Além de ter com Millôr uma afinidade profissional, já
             Foi um dos responsáveis por trazer ao Brasil trabalhos   que ambos passaram a vida frequentando redações de
             de Paul Klee, Piet Mondrian, Alexander Calder, Edvard   jornais e revistas, o crítico admirava no desenhista o  FOTOS DIVULGAÇÃO BIENAL DE SÃO PAULO | LUCIANO MARTINS | DIVULGAÇÃO
             Munch, Marcel Duchamp, Ben Nicholson, Giorgio Morandi   humor inteligente e a crítica ao poder político no Brasil.
             e, o mais destacado de todos, Pablo Picasso com seu   O olhar de Pedrosa para a obra de Millôr revela também
             Guernica (obra que está no Reina Sofía, a algumas salas   a pluralidade e diversidade no pensamento do escritor,
             de distância da mostra sobre Pedrosa).            característica ressaltada na mostra de Madri, que trata de
             Na exposição de Madri, obras de Calder, Klee, Nichol-  modo igualitário artistas mais ou menos conhecidos, dese-
             son e Morandi destacam o trabalho de Pedrosa neste   nhistas ou pintores, fotógrafos ou gravuristas, escultores


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