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INTERNACIONAL MADRI
VIDA E OBRA DE MÁRIO
PEDROSA SÃO APRESENTADOS
ATRAVÉS DA ARTE EM MADRI
EXPOSIÇÃO NO MUSEU REINA SOFIA REÚNE TRABALHOS DE GRANDES ARTISTAS DO
SÉCULO XX PARA DISCUTIR O PENSAMENTO ORIGINAL E PLURAL DO CRÍTICO BRASILEIRO
POR MARCOS GRINSPUM FERRAZ
CERCA DE 230 OBRAS de 42 artistas se encontram ressaltando que a produção crítica de Pedrosa “foi
espalhadas pela exposição no Museu Reina Sofia, em pautada, eminentemente, por reações suscitadas por
Madri. Nenhuma delas, curiosamente, foi produzida um visto-vivido imediato”.
– nem mesmo concebida – pelo homem que dá nome Desta percepção partiu a ideia de montar a exposição
e é tema da mostra, o crítico, pensador e ativista sobre o crítico sem expor majoritariamente jornais, revis-
político Mário Pedrosa (1900-1981), um dos grandes tas, livros, fotos ou objetos pessoais, mas sim trabalhos
intelectuais brasileiros do século XX. As obras escolhi- artísticos de outros autores. “A pergunta ‘como fazer
das, portanto, são de artistas sobre os quais Pedrosa uma exposição a partir da crítica?’ nos acompanhou ao
escreveu ou com os quais conviveu ao longo da vida: longo de quase quatro anos de pesquisa”, explica Som-
pessoas que o influenciaram ou foram influenciadas mer. “Frente à praticamente ausência de outros exemplos
por seu pensamento original e heterodoxo. de exposições sobre críticos nas quais pudéssemos
Pois o pernambucano não foi só crítico e jornalista, mas analisar potencialidades e limitações, nossa intenção
também incentivador de movimentos artísticos, militante foi escapar de uma mostra documental ou ilustrativa,
de partidos de esquerda, diretor e gestor de instituições diante da complexidade de suas contribuições.”
e bienais, professor e, não menos importante, amigo pró-
ximo de alguns dos mais relevantes artistas brasileiros do PRIMEIROS ANOS E CONCRETISMO
século passado. E são aspectos que envolvem amizade, As obras da mostra estão divididas em salas concebidas
sensibilidade e subjetividade, justamente, alguns dos a partir de “núcleos de pensamento” e percorrem os
eixos principais da mostra Mário Pedrosa: Da Natureza principais períodos de atuação de Pedrosa. Referentes
Afetiva da Forma, como sinaliza o próprio título. às suas primeiras críticas e aproximações (anos 1930 e
“Entendo que o centro estrutural do pensamento de início dos 1940), obras da alemã Käthe Kollwitz dividem
Pedrosa é ‘a mobilização por afeto’, que conecta teo- espaço com trabalhos dos brasileiros Candido Portinari e
ria e prática no exercício de suas atividades artísticas Di Cavalcanti, artistas que foram analisados pelo escritor
e políticas dos anos 1930 até os 1980”, diz Michelle sob uma ótica marxista clássica e nos quais ele viu um
Sommer, que assina a curadoria da mostra ao lado de tipo similar de crítica ao capitalismo e à exploração das
Gabriel Pérez-Barreiro (curador da próxima Bienal de classes operárias.
São Paulo). “É importante atentar que a sua prática É principalmente após o fim da Segunda Guerra Mun-
crítica se dá, inclusive, em uma escala doméstica de dial (1939-1945) que Pedrosa se distancia do realismo
aproximação com artistas e intelectuais, um gesto social – assim como se torna mais crítico ao realismo
de literal abertura de portas da sua casa para a rea- soviético – e se atenta à nascente produção abstrata
lização de encontros e trocas”, completa Sommer, e concreta da época, que acaba por desembocar, no
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