Page 95 - ARTE!Brasileiros #39
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AO LADO, DETALHE DE RETRATO DE FÉLIX ÉMILE TAUNAY, SEM DATA, DE NICOLAS ANTOINE TAUNAY. ACIMA, ESCULTURA DE DOM PEDRO II (1846),
                     FEITA POR FERDINAND PETTRICH, E PORTA NO ANDAR TÉRREO DO SOLAR GRANDJEAN DE MONTIGNY, NA PUC DO RIO

                     Essa união entre passado e presente também aparece em uma  o projeto de uma instituição de ensino de artes
                     foto da Praça XV de Novembro, no Rio de Janeiro. A imagem   no País. A última parte, por sua vez, apresenta os
                     é uma referência a uma tela de Jean Baptiste-Debret que   retratos dos alunos da EBA.
                     retrata a aclamação de Dom Pedro II. Na pintura, o monarca   O fotógrafo comenta a organização da obra: “As
                     aparece na varanda de sua residência sendo aclamado pelo   primeiras imagens têm uma grande energia, são
                     povo. Penteado foi ao mesmo edifício, que atualmente é a   registros de lugares antigos. Já a carta do Lebreton
                     sede do Paço Imperial, e subiu em uma das varandas. “Eu   mostra um projeto que nunca se concretizou de
                     tentei me colocar no lugar que esteve o imperador. Fiz uma   fato, situação muito recorrente na nossa formação.
                     foto da praça com um ponto de vista semelhante ao de Dom   Eu quis terminar com as imagens dos estudantes,
                     Pedro naquela ocasião. Assim, tento trabalhar em vários   como um sinal de esperança mesmo. Eles são a
                     graus possíveis de conexão”, pontua.                  continuação dessa história, produzindo diante das
                     Esses vários fragmentos ganham um sentido maior na edi-  adversidades de uma educação tão precária como
                     ção. Penteado tirou cerca de três mil fotos para o projeto,   a nossa”, pontua.
                     tendo demorado mais de um ano até selecionar as imagens   Nos últimos anos, a Missão Francesa foi tema
                     finais. Ele conta que o processo de montagem deste livro, em   de querelas historiográficas. A pesquisadora
                     particular, foi bastante difícil: “Eu estava preocupado, não   Lilia Moritz Schwarcz defende que os artistas
                     conseguia criar um sentido, uma coerência entre as imagens.   teriam vindo por conta própria e não a convite
                     Até que me dei conta de que não havia fotografado um grupo   de Dom João VI, como alega a versão oficial.
                     importante: os estudantes da atual Escola de Belas Artes   Em seu trabalho, Penteado não entra nesse
                     (EBA) da Universidade Federal do Rio. Esses retratos é que   debate. “Não me proponho a explicar o evento
                     amarraram a obra”.                                    histórico, muito menos a dar uma visão defini -
                     Ao fim da edição, o livro foi dividido em três partes. Na pri-  tiva. Como um arqueólogo, eu reúno pistas e
                     meira, há registros dos museus e das obras de arte, revelando  rastros do passado, sem criar uma narrativa
                     o efeito do tempo sobre eles. Na segunda parte, Penteado   linear, são camadas de sentido que se sobre -
                     reproduz um documento publicado na revista do Iphan (Ins-  põem. Ao ler a obra, o público navega por essas
                     tituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional): a carta   imagens e termina com uma curiosidade, sem
                     do líder da missão, Joachim Lebreton, explicando como seria   ter muitas explicações.”


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