Interior da Galerie Tanit depois da explosão. Cortesia do fotógrafo.

Uma série de explosões no porto de Beirute, capital do Líbano, causou, ao menos, 145 mortes e deixou cinco mil pessoas feridas. Segundo o primeiro ministro Hassan Diab, as explosões foram causadas por 2.7 toneladas de nitrato de amônio armazenadas no local. O composto químico é comumente utilizado como fertilizante sendo também encontrado em explosivos utilizados em mineração. Os proprietários do armazém teriam supostamente sido avisados em 2014 sobre os perigos de armazenar o material sem as devidas precauções.

Um dia depois da tragédia, o governo do Líbano declarou 5 de agosto como uma data para lamentar as perdas provocadas pelo incidente. Ao mesmo tempo, as buscas por pessoas desaparecidas e os esforços para tratar os feridos continuam. Ainda neste dia, o presidente Michel Aoun destinou ao fundo de recuperação emergencial 100 bilhões de libras libanesas (equivalente a R$ 353 milhões).

Entre os espaços severamente danificados pelas explosões estão galerias de arte como Mark Hachem, Sfeir-Semler e Janine Rubeiz. A Marfa Gallery, a Galerie Tanit, e a Opera Gallery em Beirute foram completamente destruídas, segundo o The Art Newspaper. Além das galerias, a catedral Catedral Maronita de São Jorge, arquidiocese da cidade de Beirute, e o Museu Sursock também foram atingidos pela rajada. “Muitos danos foram causados à estrutura do edifício em um momento em que o dólar no Líbano é tão alto que não sei se teremos recursos para comprar vidro novo para as clarabóias, janelas e portas de saída”, conta Zeina Arida, diretora do Sursock, ao The Art Newspaper. O acervo do museu, advindo da coleção de arte moderna e contemporânea do aristocrata libanês Nicolas Sursock, inclui mais de quatro mil obras de cerca de 400 artistas de todo o mundo árabe. O museu foi central para a vida cultural de Beirute na década de 1960. Em 2008 ele iniciou um projeto de renovação e expansão, planejado desde o ano 2000, que foi finalizado em 2015, quando o museu foi reaberto.

Interior do Museu Sursock depois da explosão. Foto: Marie Nour Hechaime, curadora do Museu Sursock.

O desastre ocorre em um momento complicado para o Líbano. Em outubro do ano passado, protestos foram escalando contra corrupção, a decadência dos espaços públicos e a dívida considerável do país. À época, museus, galerias e entidades culturais do país fecharam suas portas como gesto de solidariedade aos protestantes. Desde então, a moeda do país foi desvalorizada em 80%, a eletricidade foi limitada a várias horas por dia e o desemprego aumentou. “Nos 29 anos que passei no Líbano, nunca vi nada assim”, disse Laure d’Hauteville, fundadora e diretora da Feira de Arte de Beirute, ao The Art Newspaper. A feira acontece anualmente na Seaside Arena, antiga BIEL, perto do local onde ocorreram as explosões.

A tragédia do dia 4 de agosto se soma à crise política e econômica e traz a tona a insatisfação e os medos da população. “Quando algo como isso acontece, você reencontra um pânico antigo e as feridas da guerra se abrem novamente. Você se sente desorientado e desesperado para se esconder em algum lugar, mas não sabe onde”, desabafa a artista Katya Traboulsi ao The Art Newspaper.  “Nós todos temos tanta raiva que tudo que queremos é nos expressar. Acho que a arte é a melhor forma de fazer isso”, disse ao veículo o fotógrafo Tarek Moukaddem, que teve estúdio e casa destruídos pela explosão.

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