Collezione Maramotti
Sede da Collezione Maramotti, Que serviu como fábrica da Max Mara, em Reggio Emilia, na Itália

Em meio à tendência internacional na qual colecionadores criam espaços de arte que acabam servindo mais para exibir seu poder e reforçar sua própria imagem, a Collezione Maramotti, na cidade de Regio Emilia, na Itália, é uma exceção notável. Criada por Achile Maramotti (1927 – 2005), o fundador da marca Max Mara, há doze anos a coleção Maramotti ocupa o prédio modernista de 1957, que serviu de fábrica para a empresa de moda italiana.

Depois de sua morte, seus três filhos, Luigi, Ignazio and Ludovica, abriram o acervo, então com 450 obras, de forma pública, sem, no entanto, serem os protagonistas da história. “Eles se recusam a dar entrevistas, nem participam de conselhos de museus ou instituições, querem que as obras falem por elas”, conta Sara Piccinini, coordenadora sênior da coleção.

Desde então, o acervo chegou a 1.100 trabalhos. “A coleção começou a ser criada nos anos 1960 com artistas que surgiram naquele período, por isso ela segue hoje com a aquisição de obras de jovens artistas ou em meio de carreira”, explica Piccinini. Da geração inicial, participam nomes como Mario Merz ou Jannis Kounellis, do movimento Arte Povera, dos anos 1960 e 1970, e Sandro Chia, Francesco Clemente e Mimmo Paladino, da Tranvanguarda italiana, termo criado por Achile Bonito Oliva para apontar o renascimento da pintura na década de 1980.

É na tela, aliás, que a maior parte das obras se faz visível. “Creio que 85% das obras são pinturas”, calcula a coordenadora. Por isso, provavelmente, o acervo reúne até trabalhos anteriores aos períodos em destaque, como um Francis Bacon de 1952, além de trabalhos da santíssima trindade da pintura alemã, composta por Anselm Kiefer, Gerhard Richter e Georg Baselitz.

Postnaturalia
Postnaturalia (2017), instalação do artista checo Kristof Kintera, parte da seção Rehang, na mostra permanente da Collezione Maramotti

Rehang

O edifício sede conta com uma área expositiva de 6 mil m2), divididos em 43 salas, que se mantiveram praticamente com a mesma seleção de obras desde sua inauguração. Dez delas, contudo, foram reorganizadas, em março passado, para apresentar alguns dos 30 projetos comissionados a jovens artistas que foram expostos nas salas de mostras temporárias da instituição, nos últimos onze anos. Rehang é título que dá nome a esta nova sessão, onde estão trabalhos do checo Kristof Kintera, do alemão Thomas Scheibitz, e da italiana Alessandra Ariatti, uma pintora que nasceu na própria cidade de Reggio Emilia.

A exposição permanente é aberta ao público quatro dias por semana, quinta a domingo, gratuitamente, sob inscrição. Já as mostras temporárias são de visitação livre. Atualmente, está em cartaz Fontes de Za’atari, um projeto da artista Margherita Moscardini que, desde 2015, faz um mapeamento de fontes de água em um campo de refugiados com 80 mil pessoas na Jordânia. A mostra apresenta uma tipologia e documentação destas fontes e, uma delas, foi copiada em mármore e foi instalada em uma praça de Reggio Emilia.

Não há subsídio público para o museu, e tudo é bancado pela família Maramotti, sem nem mesmo ter como contrapartida metas de público, de acordo com Piccinini. Quando números parecem nortear muitos projetos de arte, é raro ver um local onde a arte de fato seja o centro das atenções como ocorre na coleção Maramotti.


Fabio Cypriano viajou a convite da Collezione Maramotti


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