ESCULTURA DE Rose Klabin, Feiga, 2018

Apesar da premissa de falar sobre o papel da mulher como ficcionista, Um teto todo seu, publicado por Virginia Woolf em 1929, reuniu textos que se debruçaram sobre o posicionamento da mulher como artista em geral. A escritora britânica buscou na História e no dia-a-dia exemplos para sua argumentação. Sob seu teto, abrindo sua casa ao público, Rose Klabin montou uma exposição na qual teve que remontar a sua história e questionar o seu dia-a-dia para contestar como estava sendo desemprenhado seu papel como mulher artista, mãe, filha e outros tantos que assumiu ao longo de seus 40 anos.

Afastou-se, por opção, do universo artístico enquanto, com suas contestações, tentava entrar em um acordo consigo mesma para concluir uma espécie de autodescobrimento. “A minha prática como artista não estava condizente com o meu afetivo”, conta Rose. Apesar disso, continuou a produzir em casa. Sua pesquisa íntima resultou na produção de cinco esculturas de mármore, comprometidas com resíduos industriais, como ferro e outros metais.

Inicialmente, porém, não havia intenção de produzir uma mostra. Por isso mesmo e pela questão de ter sido concebido naquele espaço, que além de sua casa abriga seu ateliê, preferiu não fazer uma exposição na galeria Eduardo Fernandes, pela qual é representada. Construiu, com projeto expográfico do arquiteto Mauro Munhoz, um “universo instalativo para esculturas que não se finalizavam por si só”, como definiu a artista.

‘Bertha’, 2018

“Imersão”, “dedicação” e “entrega” são as palavras que Rose usa para apontar com o que deve ser encarada a andança do visitante pelo caminho que construiu para a exposição, que tem curadoria de Douglas de Freitas. O percurso escuro, iluminado por fachos de luz controlados de forma metódica, é acompanhado por um canto lituano arcaico, entoado por mulheres, que ecoa alto por todo o ambiente. A junção do visual e do musical coloca qualquer visitante atento em transe. “Há encontros e desencontros nessas canções, os encontros seriam acordos”, comenta.

As figuras de mármore na primeira sala da exposição remetem a mulheres de diferentes arquétipos e em diferentes situações. Todas essas situações a dor parece estar presente. A delicadeza do mármore com o rústico do ferro decomposto formam um contraste que se complementa. Referências às origens de sua família estão sempre presentes.

A música lituana, o ferro, as peças que remetem à máquinas e uma última obra, na segunda sala, mostram que Rose foi ao cerne de si. Tal obra, um busto de seu avô instalado de forma particular, deve seguir para uma praça na cidade onde ele se instalou ao chegar no Brasil. Sutartine fica em cartaz até 8 de agosto no ateliê da artista, localizado no bairro Cidade Jardim


Rose Klabin – Sutartine
Até 08 de agosto
Ateliê Rose Klabin

Rua Jaguanambi, 105 – Cidade Jardim, São Paulo


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